segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

A poderosa influência da mente no comportamento financeiro do indivíduo


Louis Frankenberg,CFP®  20.02.2012
O período de Carnaval provavelmente não é a melhor  época para abordar um tema  cada vez mais dominante  e fazer uma breve análise   a respeito do assunto. Como bem sabemos, nossas finanças    são determinadas por complexos   fatores de ordem   comportamental.   
Para introduzir o assunto  resolvi reproduzir uma matéria de minha autoria recém publicada neste mês de Fevereiro pela ANEFAC, (www.anefac.com.br) a Associação de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, da qual  também sou um dos diretores.  O título é;
Este cérebro complexo é o supremo comandante de nossas ações”.
Eis o texto exatamente como foi publicado; 
“Creio que foi no ano de 2005 que tive a honra de escutar pela 1ª vez e pessoalmente o psicólogo, Dr.Daniel Kahneman, da Princeton University, Prêmio Nobel de Economia de 2.002. Eu já o seguia de perto há tempos e com enorme fascínio pelo conteúdo de suas teorias a respeito de como funcionava nosso cérebro, que coincidia 100%  com minha filosofia de planejador financeiro pessoal.
Desde o início da minha atividade como planejador financeiro nos anos 70  eu acreditava piamente que não era suficiente indicar aos meus clientes  investimentos diversificados de renda fixa ou variável.
A maioria  dos investidores naquela época só pensava em obter a maior renda possível, como poderiam fugir da perda do poder aquisitivo da moeda e do pagamento de impostos...
Eu imaginava que o fator primordial era conhecer o melhor possível meus clientes e, sempre que possível os convidava para uma conversa informal, de preferência o casal, para entender quais eram suas prioridades de vida.   
Mas não fui eu, porém Kahneman que conquistou o mundo financeiro para os incríveis conceitos do “Behaviour Finance” ou seja “Comportamento Financeiro”. 
Atualmente, não passa uma semana em que não leio no “The Economist” e outras revistas especializadas, matérias a respeito da enorme evolução que está havendo no cada vez maior conhecimento que está se obtendo sobre o funcionamento de nosso cérebro.  
Após inúmeros anos  praticando o planejamento financeiro, recentemente  resolvi enfrentar um curso de pós graduação em “Psicologia Econômica” na PUC, com a Professora Vera Rita de Mello Ferreira e toda a minha experiência prática  foi  sendo   reconfirmada pelas descobertas feitas naquela área do conhecimento...
Sabe-se hoje que o “ Sistema  Límbico” do cérebro  é o local onde nossos  instintos primitivos dominam; são nossos medos, ansiedades, impulsos, irracionalidades,   memória de acontecimentos negativos etc.
Nesta longa e constante evolução do ser humano pelos séculos afora, aos poucos desenvolvemos o “Neo Cortex”,ou seja a parte frontal do cérebro onde estão localizadas nossa lógica, múltiplas formas de comunicação que desenvolvemos; elas são a parte racional, a parte da inteligência que somente  nós seres humanos possuímos (e as vezes tão erradamente utilizamos).
Sabe-se hoje em dia que o “Sistema Límbico” é a parte primitiva do cérebro na qual  os instintos  são dez  vezes mais poderosos que o  “Neo Córtex”!
Esta é a principal razão pela qual  é   tão difícil tomarmos decisões racionais em relação ao dinheiro e tantos outros  aspectos de nossas vidas quotidianas.
Aparentemente não existem conexões entre o Sistema Límbico e o Neo Córtex e decorrente deste fato  torna-se extremamente difícil pensarmos no longo prazo, em escolhermos investimentos menos imediatistas ou pensarmos seriamente em nossa aposentadoria quando ainda  distante.  Geralmente optamos por pensar no imediatismo das coisas prazerosas. Alguém discorda?”

Até aí a matéria em questão  tal como foi publicada na revista da ANEFAC.
Bem, vocês podem com toda razão  concluir que não é sem razão que nós seres humanos somos escravos, vinculados e dependentes de   nossos  próprios vícios. Que atire a primeira pedra quem afirma que não os têm!
Fascinado há anos pelo assunto da falta de domínio e controle sobre nossas próprias vontades, procuro ler e entender matérias científicas que, cada vez em maior número,  comprovam  que nosso cérebro comanda e policia tudo e que quase sempre somos  irremediavelmente subjugados por desejos, vícios e vontades que superam  as advertências de outro comando deste mesmo cérebro bem mais fraco  e volúvel.    
Na maioria de nós uma  tímida   voz em segundo plano nos diz  por exemplo de que não devemos fazer tal investimento por ser  demasiado arriscado ou então que,  Joãozinho, pela informação de conhecidos nossos,  não é pessoa de bem e de que não devemos nos associar a ele naquele novo empreendimento que ele nos propôs...
Entretanto,  nosso “Sistema Límbico” não  somente nos envolve  em questões  financeiras ou  de nosso  caráter. O domínio  mental sobre a gente  vai muito além e na prática somos na maioria das vezes vencido por ele.
Ele se insinua e ainda nos envolve inapelavelmente  com aquela vizinha  gostosa  que,  com seus olhares  enfeitiçadores nos deixa louco, mas que tem um marido com o qual seria mais conveniente não se meter. (Mesmo assim, muitos homens não resistem...)
Esta primitiva e dominante força presente desde o começo da humanidade na maioria das vezes acaba vencendo  nossas próprias dúvidas e restrições. Também  sucumbimos ante a temerária letra severa da lei seca quando, no bar da esquina, na companhia de   amigos  uma voz interior  nos adverte de que  já bebemos o suficiente cerveja ou vinho, pois ainda teremos pela frente  o ato de dirigir nosso carro para chegarmos  sãos e salvos em casa.

Voltando ao tema das finanças pessoais, na condição de planejador financeiro de carteirinha e com  muito aconselhamento   nas costas, continuo abismado com a quantidade de pessoas  que têm coragem de pagar as taxas de juros geralmente   elevadas e até  mesmo absurdas  que nos são debitadas pelo uso do cartão de crédito além do período de graça ou então pelo cheque especial para o qual em última instância resolvemos apelar.
São todos, sem exceção,  grandes e imperceptíveis ladrões de nosso suado dinheirinho.
Em época não longe de nossa malfadada economia passada, a da grande inflação, ainda seria admitido pagar  8% a 12% de juros mensais pela  aquisição de algum bem de consumo, mas não mais hoje em dia, quando você obtém em sua caderneta de poupança  apenas 0,5% mensais de rendimento ou quem sabe até um pouco mais em outra aplicação (mesmo sabendo que a inflação atual lhe retira sorrateiramente   percentual igual).
A imensa vontade de possuir imediatamente um par de sapatos, um relógio, uma blusa, um celular ultimo modelo e até aquele modelo novo de automóvel,  é  condição suficiente para homens e mulheres sem distinção,  bloquearem seus raciocínios lógicos e caírem na tentação de obtê-los de qualquer maneira.   Tudo resultante  deste maldito e primitivo “Sistema Límbico”, dez vezes mais poderoso que o “Neo Córtex do qual já falamos mais acima.   
Invariavelmente  todos  os  levantamentos e estudos sobre poupança e reservas das diversas classes sócio econômicas afirmam que a maior parte  de nossa população não tem um miserável Real guardado em alguma conta bancária de  reserva ou fundo de pensão complementar. As mesmas pesquisas comprovam que o endividamento destes cidadãos podem  vir a alcançar entre 25% a 35% de suas  receitas mensais.
Se você meu caro amigo ou amiga faz parte deste contingente, envergonhe-se  e mude imediatamente alguns dos seus conceitos para seu próprio bem!
Você sabe por experiência própria ou decorrente de histórias que já ouviu, que é muito melhor para sua saúde financeira e mental ter sempre a mão uma reserva  para os tais  momentos  de desespero no qual o mundo ao seu  redor  subitamente desabou  e está sendo embaraçoso  pedir ajuda a familiares   ou amigos...
É apenas  neste exato momento  que você pensa que teria sido melhor ter uma boa reserva  disponível no banco do que ao invés, ter entrado em um financiamento  para a aquisição da mais recente  versão do  seu  carro favorito...
Eu, ao contrário, faço esforço para continuar sendo a pessoa dos meus primeiros anos de luta para ser alguém na vida,  quando revolvia cada tostão duas ou mais vezes na mão antes  de me decidir como gastá-lo. Mão de vaca?  Pão duro?  Nada disto, eu era apenas  muitíssimo consciente  em saber quais eram as minhas prioridades de vida e como seria  difícil conquistar um lugar ao sol sem fazer alguns sacrifícios.
Naquela  época, hoje longínquo, adotei um princípio  que tentei inclusive  transmitir aos meus filhos e a muitos dos meus clientes. Alguns  destes últimos  o adotaram e, provavelmente se deram bem, outros preferiram  continuar  sendo   a cigarra da fábula de Aesopo ao não  adotar a fórmula da formiga.
Qual era este meu princípio?   Querem mesmo saber? Então aí vai.
“Caso eu gastasse meu suado dinheirinho em uma porção de coisas pequeninhas, jamais teria condições de alcançar meus principais  objetivos ( e sonhos) de vida.”  E eu sabia muito bem o que queria para mim mesmo!
A ciência neurológica, cada vez mais com maior certeza e objetividade está conseguindo comprovar que   certas substâncias químicas atuantes em nosso cérebro  são os  grandes responsáveis por nossos vícios.  Não é tarefa fácil, contornar ou submeter  estas forças  naturais  que algum ser superior projetou para nós.
Devemos portanto tentar dominar o fato de  querer adquirir bens ou cometer outra qualquer insensatez  que comprovadamente será dez vezes mais poderoso que aquela voz tímida e pouco eficaz que fracamente nós sussurra  que aquele ato  vai  futuramente  nos  custar caro.   
Uma super dose da substância chamada adrenalina  é o responsável por tanta gente ir além do razoável para alcançar algum objetivo, arriscando-se muito. A adrenalina é doce, encantadora mesmo e por isso mesmo 1.000 vezes mais perigosa do que conscientemente admitimos!  
Não é sem razão que  as melhores  e mais inteligentes instituições financeiras tentam descobrir  quais os produtos  e serviços que devem oferecer a cada um dos seus clientes.
O chamado perfil  de risco divide cada um de nós em  cautelosos, conservadores,  prudentes, liberais, inovadores, aventureiros, especuladores,  audaciosos, ambiciosos, empreendedores etc.  Tente você mesmo descobrir em qual das classificações que melhor se enquadra e de hoje em diante tente também dominar aquela vozinha melosa  que lhe impulsiona a cometer erros dos quais possa se arrepender amargamente amanhã!
Agradecido por ser meu leitor  fiel, me despeço por hoje desejando-lhe um bom carnaval ( mas sem excessos!)
Louis Frankenberg,CFP®  20-02-2012
  
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Um comentário:

Falcone disse...

Frankenberg, mais um texto excelente! Obrigado por dividir conhecimento, experiência e análise independente com o público. Temos um processo mental em nível subconsciente herdado dos tempos das cavernas. Por outro lado, também somos capazes de filtrar essas emoções e tendências naturais através do uso da nossa consciência. Nossa evolução nos obriga a isso e, em relação aos assuntos financeiros, precisamos de alertas, educação e vontade para frear esses "instintos consumistas". O problema reside nas palavras: VONTADE e MOTIVAÇÃO.