terça-feira, 22 de junho de 2010

Relações incestuosas no mercado acionário?

Seres humanos, com raras exceções, são influenciados por fatores nem sempre dos mais honestos ou transparentes. Interesses conflitantes, ocultos mas mesmo assim inconfundíveis, podem alterar ou favorecer opiniões tendenciosas por parte de analistas financeiros, com a conivência de altas diretorias de empresas. Estas opiniões podem ocasionar distorções avaliação por parte do público investidor. Os papeis de algumas dessas empresas, podem ter grande visibilidade e negociabilidade no mercado acionário.

A revista The Economist, em sua edição de 6 de fevereiro último publicou uma pesquisa efetuada com 1.300 diretores corporativos de Wall Street. Os autores do estudo, James Westphal e Melissa Graebner divulgaram suas impressões no “Academy of Management Journal” no qual, entre outras considerações, afirmam que as lideranças das empresas por eles entrevistados muitas vezes preferem alterar a maneira de divulgar as informações a respeito de seus empreendimentos do que efetivamente fazer mudanças em divulgações contábeis e outras publicações. Em outras palavras seus dirigentes não gostam de ouvir opiniões negativas a respeito da maneira como administram as respectivas empresas, preferindo camuflar dados menos alvissareiros ao em vez de providenciar mudanças estruturais.

Os mesmos autores vão mais longe ainda, afirmando que a tal de Governança Corporativa dessas mesmas empresas perde grande parte da transparência e honestidade opinativa ao encarregar algumas vezes diretores de empresas amigas e, com as quais tem relações comerciais, de transmitir dados positivos e impactantes aos ditos profissionais analistas.

Com essas manobras, no mínimo dúbias, o chamado “rating” ou classificação de agencias especializadas em classificações, tendem a exagerar quando colocam suas características letras maiúsculas e minúsculas, seguidas de sinais positivos ou negativos junto ao nome da empresa visada. Como conseqüência tanto ações como obrigações dessas empresas cotadas nas bolsas tendem a se valorizar ou ao contrário desvalorizar (menos provável), confundindo desta maneira o público investidor, sempre ávido em obter lucros os mais rápidos possíveis.

Penso que deva ser esta uma das principais razões pelas quais algumas empresas não terão posteriormente a performance que se imaginaria pudessem ter caso o público fosse melhor (“honestamente”) informado. Infelizmente cifras, percentuais e demais dados menos interessantes muitas vezes são camuflados ( relevados ou disfarçados através de notas separadas ou mesmo ausentes) enquanto outros fatores mais espetaculares são realçados. Os prognósticos e probabilidades de lucros estão permeados nestes relatórios, sempre cuidadosamente redigidos pela diretoria.

Indo um pouco mais longe, e a conclusão é minha, é esta ultima sentença a razão pela qual algumas dessas empresas muitas vezes acabam posteriormente tendo cotadas suas ações bastante abaixo do que seria de se esperar (e no limite, até quebrando, causando grande reboliço nos mercados), considerando-se apenas a opinião de analistas coniventes e pouco éticos. Estas agencias especializadas em “rating” deveriam ser isentas e independentes, mas deixam de ser quando iludem o público com estas artimanhas.

Não podemos esquecer que agencias de “rating” sempre são contratadas e remuneradas pelas empresas interessadas em suas avaliações, é claro as mais positivas possíveis...

Provavelmente ( e esta também é minha própria opinião) seja essa uma das principais razões pelas quais grupos empresariais, especialmente do ramo financeiro de renome como AIG, Northern Rock, Citi Bank, Bank of Amerika, Royal Bank of Scotland, Fortis, Lehmann Brothers, HBO, UBS, ING, Merril Lynch, Freddi Mac, Fannie Mãe e ultimamente Dubai World, entre tantos outros, tiveram ou continuam tendo enormes dificuldades em limpar seus nomes após a grande crise financeira de 2008. Alguns desses grupos agora estão tentando desesperadamente levantar novo capital junto ao tradicional público investidor, além tentarem convencer fundos tipo hedge, fundos de pensão e fundos soberanos a adquirir participação em seus empreendimentos.

Igualmente é uma das razões de terem chegado à luz do dia, alguns esquemas fraudulentos do tipo Madoff e Stanford.

A pergunta que não cala em minha mente de consultor independente é imaginar se e quando estes relacionamentos incestuosos irão se manifestar publicamente em nosso próprio país, pois sinceramente, não acredito que somos imunes ou acima destas práticas escandalosas.

Será que os dirigentes de algumas das grandes corporações ativas em nosso próprio e incipiente mercado acionário estarão acima das palavras caluniosas por mim descritas­ acima? Acredito que, mais cedo ou mais tarde, algumas práticas menos convencionais, virão à tona. Sinceramente, preferia estar errado.

Finalizo com um conselho por quem já viu de tudo acontecer nas últimas décadas, aqui e alhures; Nunca se deixe influenciar por proclamações demasiadamente otimistas de diretorias de empresas de capital aberto com influencia em nossa própria bolsa de valores, nem por analistas dito especializados, jornalistas sensacionalistas ou quaisquer outros intermediários que possam estar comprometidos com a transparência e a isenção de suas recomendações.

Faça sua própria minuciosa pesquisa de dados e informações antes de adquirir qualquer ação muito recomendada e talvez artificialmente enfeitada para lhe colocar água na boca e lhe fazer correr para obter algumas migalhas da oferta!

Original escrito em 25/2/2010 -re editado em 22/06/2010

*Louis Frankenberg é diretor de Planejamento e Finanças Pessoais da ANEFAC e sócio do site financeiro FINANCENTER,

www.financenter.com.br

Blog; www.seufuturofinanceiro.blogspot.com

e-mail; perfinpl@uol.com.br

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Porque você deve contribuir com a previdência oficial, INSS

Leve em consideração a experiência de um planejador financeiro pessoal .

Acredito que você que me lê deve ser jovem, talvez até já tendo atingido(a) os 40 anos de idade, mas ainda trabalha e obtém seu próprio sustento e talvez também o de sua família.

Como já deve ter percebido(a), uma das razões da existência deste meu blog é transmitir com honestidade de propósitos a minha experiência de muitos anos, praticando o planejamento financeiro pessoal, sem segundas intenções e a maior transparência possível.

A seguir abreviadamente descrevo o que verdadeiramente ocorreu a inúmeros dos meus clientes que contribuíram como autônomos ou funcionários de empresas durante muitos anos com montantes maiores ou menores ao Instituto Nacional de Seguridade Social, nosso conhecido INSS.

A verdade deve ser dita que alguns deles, (incluindo-me também nesse grupo), não acreditavam em, por tanto tempo contribuir com montantes regulares e mensais para com a previdência oficial e, conseqüentemente, quando lhes era possível, o evitavam. Essas pessoas eram extremamente críticas ao sistema INSS e algumas vezes se recusavam a pagar as contribuições mensais.

Quando se trabalha há tantos anos com a pessoa física como eu, é óbvio que muitos clientes homens, já não se encontram mais entre nós vivos ou seja já faleceram.

A grande maioria daqueles homens eram formalmente casados ou não, e deixaram viúvas ou companheiras de luto, lamentando-lhes a morte. Alguns faleceram prematuramente por doença ou acidente, outros com idade mais elevada.

O fato é que, estatisticamente, nós homens vivemos em média de 6 a 8 anos menos que nossas companheiras. Felizmente no mundo e em nosso país também, a moderna medicina preventiva tem esticado nossa vida média para bastante além dos 74 anos. Caso você se cuida, tem boa instrução (e tira inteligente proveito dela), se alimenta saudavelmente, pratica esportes ou faz regularmente exercícios, tenta se estressar o menos possível (nada fácil!), você tem toda a probabilidade de atingir 85 até 90 anos ou mais!

Mas hoje meu objetivo não é fazer a apologia da longevidade e como atingi-la.

Ocorre que quando se pratica o planejamento financeiro com profissionalismo e dedicação, por tantos anos, e recordando os muitos dos meus clientes que já faleceram, e que por sua vez deixaram viúvas devido a doenças e, algumas vezes também ocasionadas por acidentes fatais, pode-se falar com autoridade.

Lembro também com tristeza os casos de menores dependentes que passaram a lamentar a perda de um papai. Inúmeros desses meus clientes eram executivos com cargos elevados em empresas de renome, mas também comerciantes, industriais, profissionais liberais como médicos, dentistas, engenheiros, advogados e até banqueiros ou pessoas ligadas ao mercado financeiro.

Devido à profunda confiança conquistada após inúmeros anos de convívio com aqueles clientes, as viúvas também se voltavam a mim pedindo para eu ajudá-las a equacionar financeiramente suas vidas. Quase sempre eu já conhecia a maioria das aplicações financeiras e situações patrimoniais da família e isso ajudava em muito a minha tarefa.

Mas nem sempre a situação era tão simples assim por diferentes razões.

As poucas mas importantes questões que desejo realçar, são as seguintes:

Relato tudo isso para que você pense a respeito delas, pois alguém que você ama e quer tanto bem, pode tornar-se vitima de sua falta de previsão ou da falta de tomada de decisões acertadas antecipadamente quando tudo ainda corre bem em sua vida.

Lembre que acontecimentos imprevistos, doenças e mortes não acontecem somente aos outros. A vida é frágil e também o mundo comercial e financeiro podem pregar muitas peças a nos mesmos e aos nossos entes queridos.

  • Uma grande parcela dos meus clientes sobreviventes, independente do valor do patrimônio e rendas que possuíam antes, passaram a contar com a pensão do INSS como fonte fundamental e às vezes única para seu continuado sustento. Algumas dessas viúvas, lembro tão bem, somente contavam com esta única fonte de renda!
  • É muitas vezes esquecido pelas pessoas que o INSS alem de ser uma futura fonte de renda na aposentadoria e de pensão (quando a viúva ou dependente recebe o valor), que a contribuição mensal também serve para o próprio contribuinte e sua família receber assistência médica, ambulatorial e hospitalar. Não se deve desprezar essa possibilidade, mesmo quando da existência de algum plano ou seguro complementar de saúde e que exclui algum tratamento mais raro ou sofisticado.
  • De vez em quando, a mídia em geral e articulistas (como eu próprio), colocam em dúvida a sobrevivência do INSS e suas injustiças (que de fato existem), mas o sistema até a presente data sobreviveu a todas as críticas e tem pago a subsistência de milhões de pessoas religiosamente e nas datas marcadas.
  • Como planejador financeiro cauteloso que sou, recomendo para aqueles que tem essa folga financeira, que também construam seus planos complementares de previdência privada com um ou mais grupos financeiros idôneos e de tradição de nosso país.
  • Sem dúvida alguma, existem muitas vantagens adicionais em possuí-los, pois enquanto você como pessoa física no decorrer dos anos vai perdendo sua vitalidade física e mental, um plano bem montado lhe dará em todas as circunstâncias um complemento financeiro que pode fazer diferença entre ter uma continuidade de vida espartana ou uma vida mais confortável.

Louis Frankenberg, CFP® - 21/06/2010

e-mail; perfinpl@uol.com.br e lframont@gmail.com

Blog; www.seufuturofinanceiro.blogspot.com