sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Diagnóstico Financeiro para um Cliente


 

 

Um aconselhamento muito sincero para sua vida   

 

Louis Frankenberg, CFP® 24.8.2012.

 

Apenas para fins ilustrativos e, definitivamente sem finalidade auto promocional, reproduzo abaixo a parte introdutório  de  um  diagnóstico de planejamento financeiro pessoal   feito por mim  para um cliente executivo  de meia idade, casado, com dois filhos.

O relatório é resultante de duas entrevistas pessoais totalizando  aproximadamente 7 horas de duração que tivemos durante dois encontros em Junho deste ano.

Esta parte introdutória detalha minha visão e interpretação resultantes dos desejos e objetivos expressados pelo cliente no médio e longo prazos junto com minhas observações e conclusões. Mas também é uma visão holística resultante de anos de observação.  

O conjunto dessas informações confidenciais sobre sua vida, incluindo documentos a respeito de fontes de rendimento, atuais investimentos, etc. forneceram suficientes dados para interpretar os mesmos e desenvolver esta parte introdutório e o restante das observações, sugestões e conclusões que formaram o restante do relatório.   

Identidade e dados confidenciais estão sendo omitidos.

 

Prezado “X”

De acordo com o escopo da minha proposta inicial de 14/6/2012 estarei analisando e simultaneamente descrevendo meu ponto de vista em relação aos atuais investimentos e seguros existentes, que constituem seu patrimônio, sugerindo quando é o caso, sua simples e pura eliminação, continuidade ou eventual ampliação.

Também estarei sugerindo alternativamente algum novo investimento que imagino, possa ser do seu interesse para o médio e longo prazo ressaltando, entretanto, que no mundo dinâmico dos dias de hoje, estas mesmas alternativas podem se tornar rapidamente obsoletas, exigindo periodicamente novas avaliações. 

Também concorrem para essas eventuais alterações, mudanças de rumo empreendidas, modificações ou acréscimos de novas fontes de receita. 

Estarei igualmente sugerindo, eventualmente, diferentes aplicações, seguros de vida ou planos de previdência complementar a serem adquiridas, sendo baseados no incremento patrimonial ou resultantes de alterações de seu status atual, sempre de acordo com seu perfil, desejos e objetivos que, passo a considerar como sendo tendente a ser conservador.

Como já dito, o relatório considera o médio e longo prazos e  igualmente o relaciona com sua atual idade, dando peso  e prioridade à sua preocupação  contínua com   a família.    

O escopo e avaliação para todas as minhas considerações (mesmo que não citadas explicitamente) igualmente contemplam ocorrências assimétricas tais como imprevistos, eventuais crises no país (e no exterior) ou ainda acontecimentos pessoais, porém sempre tendo como motivação principal seu objetivo básico; uma gradativa e sólida construção patrimonial, visando o bem estar econômico-financeiro de si e da família.

O relatório levará ainda em conta a recomendação do uso de entidades financeiras tradicionais e que, consistentemente tenham no passado demonstrado solidez, eficácia e rentabilidade, apesar de que ninguém possa garantir que um passado consistente irá se repetir no futuro.

 

Como vivemos em país onde de tempos em tempos ocorre alguma forma de crise (aliás, nenhum país escapa hoje em dia dessa observação), sou partidário de que sempre se considere a opção de fazer negócios com empresas tradicional e comprovadamente sérias e desconsiderem-se aquelas que são demasiadamente ousadas ou ainda tenham a tendência de prometer lucratividade excessiva e de pouca probabilidade de se realizar.

 

 

A experiência   de 35 anos no ramo do aconselhamento financeiro às pessoas físicas me faz recomendar que se devesse levar a sério uma questão geralmente esquecida, de que estatisticamente um ou mais dos investimentos ou negócios feitos por você ou qualquer pessoa, poderá falhar completamente em seus propósitos e, por esta mesma razão, é sumamente importante buscar-se sempre uma razoável diversificação (pulverização de risco) de aplicações ou negócios, independente do nível de rendimento que possa ser obtido.  

Esta última questão levantada provavelmente é bastante difícil de ser considerada como coerente, ou seja, como a mais inteligente pela maioria dos seres humanos que, geralmente têm a tendência de assumir riscos muito além dos admitidos como prudentes ou racionais.

Esta consideração tão importante está obtendo ultimamente enorme visibilidade pelas observações feitas pelo Psicólogo Daniel Kahneman, prêmio Nobel de Economia em 2.002 

 

Se por um lado costumo sugerir diversificação, por outro lado proponho igualmente alguma forma de concentração, significando que não devemos nos espalhar demais, tornando a tarefa de supervisionar e administrar o conjunto de investimentos e a eventual diversidade de instituições financeiras, difícil de ser desempenhada na prática.

Acredito também que na forma de definir melhor e com maior amplitude o termo “diversificação”, o aspecto investir no Brasil e no exterior, isto é em países com economia, legislações e moedas consolidadas, muito bem se harmoniza nestes tempos de maior globalização.

Como e aonde investir no exterior não faz parte do escopo deste relatório, porém no devido momento poder-lhe-ei ser útil, pois faz parte de minha expertise.

Chamo ainda a sua atenção para nunca deixar de analisar as variadas formas e aspectos da nossa tributação (Imposto de Renda) e sucessão cada vez mais relevantes em nosso país.

Elas podem ter significado ou peso iguais aos do rendimento alcançado e da inflação (corrosão e poder aquisitivo da nossa moeda).

Outro conselho que estou lhe dando é de não deixar de periodicamente fiscalizar e conferir resultados de aplicações etc. e sempre estar questionando gestores, exigindo respostas racionais, quando algum item controvertido não for 100% compreendido e lógico.

Endosso por inteiro um antigo provérbio que proclama;

“O olho do fazendeiro engorda e faz muito bem para a saúde do gado!”   

O atual momento econômico e financeiro mundial, mas igualmente o brasileiro, demonstra indubitavelmente que devemos criar um sólido e diversificado patrimônio incluindo em seu todo itens tradicionais como “imobiliários”, especialmente se não estivermos ligados a algum negócio comercial ou industrial nosso, sólido e confiável que nos dê maior diversificação.  

Este conselho é especialmente válido para profissionais liberais ou autônomos, seu caso, pois na aposentadoria você terá de depender pesadamente e quase que exclusivamente da totalidade do capital  e reservas acumuladas até então.

E tenha como princípio nunca confiar cegamente naquilo que governos e interessados da iniciativa privada queiram lhe impor como sendo o mais adequado para si.   No fim e ao cabo ninguém é mais importante que você e sua família! 

Faça portanto sempre uso de sua própria  capacidade intelectual e interpretação para defender   interesses e conveniências, não deixe que outros decidam por você!

 

 

 

 

A rentabilidade alcançada por meio de investimentos têm diminuído enormemente neste  últimos anos (no Brasil e igualmente como exterior), significando de que existirá toda a probabilidade de que você terá de viver, consumindo aos poucos o próprio capital acumulado desde cedo até a época de sua aposentadoria e, se não tiver algum negócio próprio relevante e confiável que lhe proporcione adicionalmente pro labores  e/ou dividendos suficientes. Não posso deixar de realçar este fator relevante que geralmente não é mencionado por planejadores financeiros.

 

Caso você me permite por breves momentos assumir o papel de futurólogo ou adivinho, eu não confiaria em demasia em nosso Sistema Oficial de Seguridade Social (INSS), e basearia minhas apostas quase que inteiramente na gradativa acumulação de capital e rendimento investidos em empreendimentos diversificados   na iniciativa privada. 

 

Geralmente a preocupação com o aspecto “terei recursos suficientes quando quiser parar de trabalhar?” ocorre um pouco mais adiante que na sua atual idade, mas mesmo assim é bom relembrá-lo que muitos executivos preferiram se esquecer (“empurrar com a barriga ou jogar por baixo do tapete...”) de que podem perder a empregabilidade e até mesmo a saúde prematuramente.

Os governos e as entidades de Seguridade Social da maioria das Nações Ocidentais já começaram a se preocupar com o novíssimo e determinante fator denominado “longevidade” no qual uma pessoa passa a receber uma pensão  entre os 60 e 65 anos de idade, porém  essa pessoa, com boa (e cada vez maior)  probabilidade, irá viver até os 90 ou até 95 anos.

Formulo  a seguir a pergunta que não quer calar em mim e  que é esta;

“qual a entidade  ou quem será o responsável  e com quais os  meios financeiros  esta pessoa ou casal irá se sustentar por 30 ou mais anos após estar aposentada?”

Diversos executivos  para os quais ofereci assessoria no passado, não levaram devidamente em consideração este fator tão relevante!   

 

Efetuar a totalidade dos investimentos e negócios sempre em nome de um casal (duas assinaturas, ou seja, contas conjuntas do tipo “joint accounts with individual ownership”, quando o casal vive em harmonia, é recomendado por diversas razões práticas e legais. Não desejo aqui entrar em maiores detalhes já que o espaço é exíguo.

 

Quero mais uma vez repetir o que já lhe disse pessoalmente, de que o próprio negócio da gente (por mais bem sucedido que seja), sempre se constituirá como sendo aquele que melhor conhecemos e no qual obteremos a maior rentabilidade (portanto igualmente naquele em que podemos eventualmente assumir maiores riscos) e no qual igualmente podemos depositar maior fé, mas isto não necessariamente significa de que nele deveremos concentrar integral ou majoritariamente o nosso patrimônio! 

É neste erro que a maioria das pessoas empreendedores e dinâmicas  incorre, acreditando que seu próprio negócio é perene e absolutamente infalível! (esta é também outra das constatações do grande Psicólogo Daniel Kahneman).   

De fato o negócio no qual investimos muito de nosso tempo, suor e dedicação é em nossa própria visão tão superior justamente porque nós nos dedicamos tanto ao mesmo, porém... muitas vezes declina vertiginosamente quando outros assumem a sua direção, algumas vezes devido doença, outras vezes devido questões   fora de nosso alcance.  

É extremamente saudável de vez em quando pensarmos de que não somos super homens e super mulheres ou seja seres insubstituíveis aos quais nada acontece!

 

Por fim uma racional divisão entre investimentos imobiliários, renda fixa e renda variável é sempre muito aconselhável.

Os percentuais mais indicados para cada um desses itens devem ser estudados individualmente e podem variar para cada pessoa (família), circunstância ou época.

A partir deste seu razoável patrimônio exclusivamente financeiro, e por fazer parte do grupo das pessoas de meia idade, lhe aconselho a não ultrapassar em 10% a 15% naqueles investimentos que possam ser considerados de elevado risco.

Quando você alcançar seus 55/60 anos de idade, a composição dos investimentos deverá se tornar gradativamente mais conservadora, para finalmente, aos 65/70 anos envolver menores margens de risco.

Para você especificamente, meu conselho genérico na atualidade e dentro das condições financeiras em que se encontra, será a seguinte divisão;   

De 30 a 35% para estar aplicado em investimentos que tenham alguma relação com a atividade imobiliária em seu próprio imóvel ou para renda.

De 65% a 70%, deveria estar voltada para investimentos em renda fixa e variável, incluindo a nova categoria de fundos imobiliários, que possam oferecer renda de aluguel ou outra forma qualquer de rendimento.

 

Conhecimento  maior a respeito de suas reservas e aplicações, somado ao permanente controle de suas despesas em relação às suas receitas, são sempre aconselhados e de qualquer maneira são considerados de bom senso em qualquer parte do planeta, pois a partir de sua aposentadoria, com toda a probabilidade, os mesmos geralmente não mais serão incrementadas por todas as razões explicadas anteriormente.

Agradecendo pela confiança depositada em mim,

sou atenciosamente,

Louis Frankenberg,CFP®  em 24-08-2.012

 



 

 

sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Quando pouca educação financeira e um marketing demasiadamente agressivo nos impulsionam ao uso exessivo do crédito




Louis Frankenberg, CFP®     10.08.2012.  

Praticamente todos nos precisamos de crédito.    

Quando nosso filho mais novo nasceu, eu me encontrava em momento profissional bastante volátil.

Encontrava-me numa daquelas importantes encruzilhadas da vida.

Acabava de pedir demissão de uma instituição financeira na qual ganhava um excelente salário e tinha finalmente, após longa reflexão e preparação profissional, resolvido iniciar carreira solo como planejador financeiro pessoal.

Meu orçamento doméstico de despesas mensais era apertado, porém bem equacionado, porém continuava pagando elevado aluguel por morar há pouco tempo em São Paulo.

Para o orçamento apertado concorria inclusive que meus outros dois filhos, pouco maiores, frequentavam uma escola particular em que eu pagava encargos bem salgados.

Resumindo meu dilema de então;

Pouco ou nada sobrava no fim de cada mês do meu elevado salário que, a partir da decisão de começar a ser um profissional autônomo, deixaria de ser depositado automaticamente na minha conta bancária.

Eu tinha apenas amealhado até então somente uma pequena reserva financeira, depositada em um fundo de investimento em ações e este era meu único pé de meia.

Não queria a não ser em última instância apelar para esta reserva financeira.

Por esta mesma razão, a boa intenção de continuar levando a vida sem prestações, juros e endividamento infelizmente estava chegando ao fim e daí em diante me impulsionaria, contra a vontade, a fazer parte da legião daqueles que tinham carnês de pagamentos mensais, como era o costume (e continua sendo) da maioria da nossa população. O advento do cartão de crédito ainda não havia chegado e quase todo mundo ainda fazia uso do talão de cheques.

A sempre crescente inflação concorria para que as taxas de juros que se pagava para as financeiras e bancos no Brasil fossem já à época bastante elevadas.

Felizmente meu último empregador permitiu que eu levantasse o FGTS, mas o montante foi insuficiente para as prementes aquisições domésticas que tinha que fazer.

Estas seriam uma máquina de lavar roupa para minha mulher e uma escrivaninha para meu novo escritório improvisado na sala de estar da casa alugada, esta última com a finalidade de dar o tiro de largada à minha nova profissão de planejador financeiro pessoal autônomo.  

Eu seria o primeiro a desenvolver educação e planejamento financeiro em nosso país onde, devido a esta mesma inflação, ninguém queria poupar e tentar criar reservas para o futuro. 

Não tive outra solução a não ser apelar, como tantos outros paulistanos, para a salvadora Casa Mappin, dos poucos magazines que naquela época oferecia crédito por intermédio de sua financeira.    

24 meses mais tarde de idas ao centro da cidade e juros elevadíssimos nos separavam      de sermos finalmente donos completos e absolutos da escrivaninha e da máquina de lavar roupa.

Os dois anos de orçamento doméstico extremamente apertado estavam chegando ao fim. Foi uma dupla comemoração, o fim das prestações e o relativo sucesso que eu estava tendo como planejador financeiro pessoal.

Chocado com o resultado obtido após ter feito o cálculo, concluí de que poderia ter adquirido duas escrivaninhas e duas maquinas de lavar roupa, caso tivesse tido dinheiro suficiente para adquiri-los à vista.

Chegando em casa após ter efetuado a 24ª e última prestação,   disse para minha mulher;

a partir de hoje não mais vamos comprar a prazo, pagando estes estúpidos juros”. Não quero passar a vida inteira trabalhando para gastar meus suados ganhos em juros!

Disse ainda que, a partir daquele momento a regra em nossa casa iria ser a seguinte;

“se temos o dinheiro na conta bancária adquirimos algo, se não temos não se gasta”.

E assim foi a partir daquele momento.

O envolvimento de um profissional de planejamento financeiro pessoal na educação financeira.

Os anos passaram e eu ia evoluindo na profissão e realizando palestras e seminários para dezenas de empresas e entidades.   A economia do país também estava evoluindo rapidamente, tornando-se mais estável a partir do advento da nova moeda, o Real.

Aos poucos ia me tornando um planejador financeiro conhecido nacionalmente, porém, até os dias de hoje estou bronqueado por não poder fazer mais pelas classes menos favorecidas do país, divulgando mais amplamente as maléficas consequências do endividamento excessivo da população menos esclarecida.   

Lembro-me jocosamente de um episódio inesquecível em que o programa “Fantástico” da TV Globo transmitiu ao vivo as imagens de uma família do Rio de Janeiro, endividada até o pescoço, sentada em sua própria residência ao redor de uma mesa junto comigo.

Ante as câmaras fui sendo filmado com uma imensa tesoura na mão, cortando os dois cartões de crédito da esposa do chefe da família, e ao mesmo tempo fazendo-a prometer solenemente de que nunca mais iria comprar a prazo!

Anos se passaram e as pessoas ainda me relembram da história e, até hoje, os furiosos gestores de cartões de crédito não me perdoaram por ter tido a petulância de fazer este marketing tão adverso para este segmento das finanças!

O precursor da divulgação de pesquisas sobre inadimplência

Em 2.002, portanto faz dez anos meu amigo e colega de diretoria Miguel de Oliveira, realizou e publicou através da ANEFAC (Associação Nacional de Executivos de Economia, Finanças e Contabilidade) a 1ª pesquisa que concluía que as diversas classes sócio econômicas de nosso país gastavam demais em juros.  

A pesquisa demonstrava que entre 1/3 e ¼ dos ganhos das famílias das diversas classes sócio econômicas eram gastos com juros.

Na época relativamente pouca atenção foi dada ao excelente trabalho do Miguel.

Ao contrário de hoje em dia, as pesquisas a respeito das taxas de juros cobradas pelas diferentes modalidades de endividamento, são amplamente divulgadas pela mídia também graças ao Miguel e a própria ANEFAC.

Sinceramente eu não conseguia acreditar na veracidade desta quantidade tão elevada de endividados em nosso país, mesmo assim eu fazia questão de divulgar o estudo em minhas palestras e seminários por meio de vistosos slides em Power point.  Ainda faço uso do slide original, pois pouca coisa mudou nestes últimos anos. 

Todo o trabalho de convencimento que produzo e divulgo até os dias de hoje se alicerçam na minha convicção de que ninguém, ninguém mesmo, deveria estar pagando conscientemente as elevadas taxas de juros que continuam sendo ofertadas por algumas instituições financeiras, apesar de aos poucos estarem sendo reduzidas.

A própria “Fundação Procon” de São Paulo, horrorizada pelas milhares de  histórias tristes  contadas por centenas de milhares de pessoas super endividadas nestes muitos anos de atuação, atualmente está iniciando um novo  programa com a finalidade de educar financeiramente pessoas super endividadas.

Espero que tenham sucesso, pois diz o provérbio que “andorinha só não faz verão  e eu estou cansado de praticamente sozinho estar apregoando ensinamentos educacionais a respeito do assunto.

Toda a nação deveria estar imbuída da intenção de educar melhor nosso povo. Somente desta maneira conseguiremos ser um país mais justo e progressista.


Pesquisas contraditórias e interesses ocultos.  

Em 20 de Junho último a Folha de S.Paulo publicou um estudo da Serasa Experian e da FecomercioSP  que afirmava que 77,2 %   das  famílias estavam  endividadas em Maio de 2012, em S.Paulo, das quais 21,53 % estavam inadimplentes.

Pessoalmente penso que jamais este Governo deveria ter iniciado recentemente uma nova campanha que visa  incentivar o consumo sem simultaneamente introduzir um adequado plano nacional que também divulgasse que o endividamento excessivo faz muito mal à saúde e ao bolso e simultaneamente explicasse em detalhe o significado do termo “consumo consciente” e dos perigos do super endividamento.

Eu teria gostado mais e seria politicamente mais adequado se o incentivo ao maior consumo estivesse relacionado às receitas e despesas do orçamento doméstico, alertando a população contra excessos.   

Incentivo para maior consumo e boa administração do orçamento doméstico a meu ver são assuntos diametralmente opostos, ou seja, absolutamente contraditórios.

Acredito que uma nação com multidões de pessoas pobres e endividadas ainda é pior que um ciclo de menor consumo!

Como profissional há tantos anos militando também no segmento educacional, eu sabia de antemão que uma população sem conhecimento e ensinamentos básicos de como conduzir seu próprio orçamento doméstico, iria sucumbir à tentação de gastar excessivamente. Lembro o que diz um antigo provérbio;

“Quem nunca comeu melado quando come se lambuza”

Jamais esta legião de pessoas pertencentes às classes “C, D, e E” poderia sobreviver a esta campanha governamental, tendente a induzir pessoas simples a avaliar com o devido cuidado e antecipadamente as consequências de compras emocionais e muitas vezes prescindíveis. 

Outra questão que me preocupa é a diversidade de pesquisas existentes e totalmente contraditórias que são produzidas por grande diversidade de entidades governamentais e privadas.

Elas me dão a sensação de que nenhuma dessas entidades de fato consegue medir com competência e realismo todos os aspectos importantes que esta questão merece.  

Também me pergunto quem ganha e quais as verdadeiras intenções de certas entidades governamentais, associações, institutos, universidades, empresas comerciais etc que divulgam essas pesquisas, estatísticas e estudos a respeito de crédito, inadimplência, perfil de pessoas endividadas etc.

Quem ou quais serão os verdadeiros interessses disfarçados  que envolvem o  endividamento e da inadimplência e quais as medidas que deveriam ser adotadas para que não nos tornemos amanhã a próxima vítima de créditos e empréstimos concedidos em excesso, como acontece atualmente na Itália, Irlanda, Grécia, Portugal e quem sabe quais outros países do mundo?


·       Realçando este meu ponto de vista da contradição existente a respeito do assunto, cito a reportagem de 17 de Junho último publicado no “O Estado de S.Paulo”.
        Na reportagem daquele dia citam que 27,3 % das famílias   estavam inadimplentes em Abril de 2012, de acordo com fontes do ”Banco Central”.

·       No mesmo mês de Abril, novamente segundo o “Banco Central” e a Pesquisa do “CNI/IBOPE”, 32 % dos brasileiros tinham alguma espécie de dívida.

·       A “ANEFAC” na mesma reportagem divulgava que a taxa de juros do cartão continuava firmemente nos absurdos 10,69 % mensais, apesar de toda publicidade existente em torno da enorme redução havida nas taxas de juros...

Não me julgo um sociólogo e nem mesmo um profundo conhecedor dos hábitos de consumo das diversas classes sócio econômicas, de todas as regiões deste nosso imenso país, apesar de estudar e tentar entendê-los.

Aqui estou dando meu próprio palpite e posso estar enganado ao afirmar que antes se gastava mais nos itens alimentação, transporte e habitação e agora se gasta mais em produtos eletrônicos e assemelhados como, por exemplo, aquisição e uso de celulares, equipamentos de som, computadores mais básicos, automóveis populares, grifes da moda etc.  

Todas as mudanças anunciadas por parte de agências governamentais, associações, institutos, universidades etc estão sendo impulsionadas não apenas pelo aumento relativo dos ganhos por parte das pessoas (nunca esquecendo o fator inflacionário que anula parcialmente este ganho), porém muito mais pelo oferecimento agressivo de crédito pelos bancos, financeiras e do comércio em geral do que por outra razão.


O Jornal “Valor” de 1º de Agosto último publicou uma reportagem mostrando a preocupação do FMI com o endividamento bancário dos brasileiros e diz textualmente ”Fundo vê risco de bolha com a expansão do crédito e queda de juros”.

É óbvio que para pessoas menos letradas, uma simples notícia de queda dos juros divulgada pela imprensa escrita ou TV atiça as mesmas a fazer novas aquisições sem levar em conta as dívidas que ainda precisam ser pagas.

Os assuntos crédito, juros, endividamento, inadimplência, consumo consciente e educação financeira são mais do que importantes, são prioritárias para um país que deseja estar entre as principais potências mundiais.


A balbúrdia da definição de quem é classe média no Brasil

Com o conhecimento adquirido nestes anos todos, não consigo acreditar que a classe média “C” tenha efetivamente avançada com qualidade e em quantidade de uns anos para cá, tal como está sendo apregoado.  

Prefiro pensar que houve isto sim, diversas alterações nos hábitos de consumo de itens e subitens de produtos e serviços por parte de todas as classes sócias econômicas em detrimento de novos itens, antes irrelevantes ou inexistentes.  

Atualmente estão sendo consideradas integrantes da classe “C”, famílias que ganham entre R$ 1.400 e R$ 4.300 brutos mensais!

A meu ver, seria preferível ou mais acertado dividir esta classe “C” em classe média baixa, classe média e classe média alta, pois estudando o poder aquisitivo da classe média baixa com renda bruta de R$ 1.400,00, não consigo imaginar que ela tenha poder aquisitivo suficiente para se considerar como sendo classe “C”.

Não desejo, entretanto, neste meu blog demasiadamente extenso, me estender mais a respeito do assunto.

Uma imensidão de matérias, crônicas e pesquisas foram publicadas a respeito do assunto nestes últimos anos e a meu ver, todas controvertidas, duvidosas ou incompletas.

 Vejamos muito resumidamente algumas delas;

·       Abro a última edição da revista da “ACREFI” e a de noticia que vejo me dá um verdadeiro arrepio na espinha, pois diz o seguinte;

“De acordo com a “Data Popular”, 59,4% dos cartões de crédito estão nas mãos da classe “C”.  Se for verdade é uma bomba de tempo.

·       Valor Econômico de 9/12/2011 – Pesquisa encomendada pela CNA de Outubro de 2011, produzido pelo Instituto IPESPE (Pesquisador Antonio Lavareda);

A renda familiar da classe média se encontra entre R$1.200,0o e R$ 5.200,00

·       Valor Econômico de 5/3/2012- Renda vai definir o tamanho da classe média, em que é afirmada de que ninguém sabe o tamanho real da massa de brasileiros que pertencem a essa mesma classe média.  Talvez sejam entre 43% e 55% da população.

O estudo se baseia na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
        Trata-se de um estudo sofisticado que adota 36 critérios e tenta
        estabelecer
Inovações no critério, segundo a diretora da Secretaria de Assuntos
        Estratégicos (SAE), segundo a pesquisadora Diana Grosner.


·       A Folha de S.Paulo, caderno B 4 (Finanças Pessoais) de 13/2/2012 publica matéria de Marcia Dessen afirmando que a classe média com ganha entre 4 e 10 salários mínimos, e constituída por 101 milhões de pessoas não está conseguindo pagar suas dívidas e afirma que 7,5% das pessoas de acordo com o Banco Central estão inadimplentes.

·       A Serasa-Experian em conjunto com o “Instituto Geoc” e a “Voz do Consumidor” confirmaram que 42 milhões de CPFs tinham alguma forma de restrição em relação a endividamento ou não pagamento de débitos, representando igualmente 42% da nossa população.
         55% dos endividados davam preferência em pagar através dos bancos e
         35% através dos varejistas.

·       No final de Julho de 2012 estive pessoalmente em São Luiz do Maranhão, sabidamente um dos estados mais pobres de nossa Federação. Em 25 de Julho abro o jornal “O Imparcial” cuja principal manchete era; “São Luiz, Capital dos Endividados”, seguido por algumas constatações de pesquisas locais.Mais de 229 mil famílias endividadas...

Como planejador financeiro espero que algum dia nossos atuais e futuros governos acordam para por todas estes diferentes critérios em ordem, racionalizando-as. 

Termino este controvertido ensaio a respeito destas importantes questões tão fundamentais com um apelo aos meus caros leitores;  
    Eduquem seus filhos e pessoas que lhes cercam para terem hábitos mais
    saudáveis, financeiramente falando, dando-lhes os instrumentos de que
    precisam para um futuro melhor, mais tranquilo e mais seguro.

      Mando-lhes um abraço fraternal,

     Louis Frankenberg, CFP® 10-08-2012.

     Blog; seufuturofinanceiro.blogspot.com