quarta-feira, 11 de junho de 2014

Será que apenas somos o país do futebol?


Será que apenas somos o país do futebol?

                    

”A respeito de regulação, verdades  que doem e mudanças”.

 

Louis Frankenberg, CFP®   11-06-2014

Blog;www.seufururofinanceiro.blogspot.com


 
Recarreguei as baterias e estou de volta de viagem, para com entusiasmo assistir a atual Copa do Mundo aqui no Brasil e, ainda de camarote na minha poltrona favorita, defronte da tela da TV acompanhado, de uma cervejinha.

Tenho saudades da minha juventude quando escutei  a maioria dos jogos da Copa do Mundo de 1950 em nosso país, transmitidos através das ondas curtas do meu pequeno rádio, ligado à energia de uma bateria de carro, durante as férias escolares que passei na época em Santa Catarina.

Mas, acrescento orgulhosamente que antes estivera presente em Porto Alegre, na partida eliminatória entre Suíça e a então Checoslováquia, atual República Tcheca.

Mas despertando para a época presente, gostaria de imaginar que a resposta ao título deste meu “post” fosse apenas,

 “felizmente não somos apenas o país do futebol!”

Durante 35 dias contemplei nosso país de fora para dentro, lendo jornais, revistas e vendo noticiários pela TV nos diversos países pelos quais passei.

Reconfirmei então novamente que absolutamente não somos o centro do mundo e que nem mesmo somos o país pior governado neste mundo conturbado e incompreensível!

Já é alguma coisa, pois voltando ao Brasil ouço que a maioria dos meus amigos gostaria que houvesse uma enorme e saudável reviravolta para as próximas eleições em relação ao partido político que nos governará futuramente.

Faço parte daqueles que pensa que a derrota do Brasil nesta Copa seria uma grande mola propulsora para a alternância dos governantes de plantão. Esta dualidade e contraditório pensamento creio,  acompanha na atualidade mais gente do que se possa imaginar.

Mas sou um estraga prazeres, pois desta vez vou falar de bancos, finanças e clientela em vez de Copa do Mundo.

Vocês amigos leitores sabem, pois já revelei anteriormente este meu segredo, que em viagem costumo colecionar materiais que eventualmente posso usar para autenticar meus comentários a respeito de assuntos financeiros ou comportamentais.

 
Na edição de 30/5/2014 do International New York Times (ex International Herald Tribune) deparei com uma matéria de Floyd Norris chamada “ Rethinking light-touch regulation”. Ele é o “Chief Financial Correspondent do The New York Times”.

Li com toda atenção a matéria durante uma viagem de avião e assinalei com marcador vermelho todas as partes que chamaram a minha atenção e com as quais, decididamente concordo.

Abaixo para vocês, traduzidas livremente do inglês, abreviadas e adaptadas, algumas das observações que aquele profissional pensa a respeito da regulação e dos enormes erros cometidos pelo segmento bancário, financeiro  e regulatório internacional.

Também eu acredito que alguns grupos extrapolaram esta liberdade e abusaram dela e, não somente em nível internacional...  

Segue abaixo um apanhado daquilo que eu havia marcado.

“Nas décadas que antecederam a crise financeira (a de 2008) havia geral concordância de que pouca regulação dos mercados e bancos seria melhor que demasiada”.

“Reguladores bancários permitiam que os bancos usassem seus próprios modelos de risco.” (meu comentário; e erraram feio.)

“Mas a crise financeira mudou muita coisa”. “Os reguladores viram a necessidade de maiores controles e menos votos de confiança aos banqueiros.”

“A nova realidade requeria nova legislação na forma, por exemplo, da lei Dodd-Frank, que os banqueiros desejariam que fosse menos restringente.”

A atual Gerentona do Fundo Monetário Internacional, a senhora Christine Lagarde ainda fala de escândalos que violentaram os princípios éticos, incluindo falências fraudulentas, lavagem de dinheiro e a fixação artificial da taxa de juros do “Libor”. Mesmo após algumas mudanças comportamentais estarem ocorrendo, elas não são suficientemente profundas...

Continua dizendo a referida senhora; “A indústria do dinheiro (bancos e gestores de recursos) continuam valorizando demasiadamente lucros obtidos no curto prazo em vez de buscarem o longo prazo... ou então “As polpudas “Bonificações” em vez de relacionamentos mais sólidos para o futuro.”.

O senhor Mark Carney do Banco da Inglaterra afirma ainda que a falta de regulação contribuiu para a crise (de 2008 e sua continuidade).

“Diz ainda que “Banking” agora significa apenas negócios, transações e deixaram de serem   relações mais confiáveis, clientes para eles são apenas contrapartidas...”

Afirma ainda a senhora Lagarde  que; “a verdadeira missão dos banqueiros continua sendo a de servir a economia...”.

Uma enquete internacional feita no ano passado em 27 países pelo F.M. I apurou que havia dúvida se lideranças políticas e comerciais poderiam ser considerados de fato confiáveis...!

45% dos respondentes nos Estados Unidos afirmavam que não havia suficiente regulação comparado com 24% dos respondentes que afirmaram que havia demais regulação e apenas 18% que afirmaram que a atual regulação estava na medida certa.

Ainda segundo a mesma matéria; “os banqueiros ganharam muito dinheiro, mas isto aconteceu antes de 2008 e que posteriormente quem teve de pagar pelos prejuízos foram os contribuintes”...

Foi esta matéria escrita por Floyd Norris, da qual retirei alguns trechos que mais me chamaram a atenção (norris.blogs.nytimes.com).

E agora meu breve comentário final.

Enxergo em nosso país situação bastante semelhante àquela descrita acima na arena internacional. A diferença maior a meu ver está no fato que a área técnica financeira do governo em nosso país é tão culpada quanto o segmento financeiro  privado que, apenas tenta se defender dos  inúmeros golpes assentados continuamente contra o mesmo.  

A mim parece que somos aqui vítimas e ao mesmo tempo participantes silenciosos e indefesos de uma enorme e tresloucada aventura política, econômica e financeira que, eventualmente, pode não dar  certo.

Mesmo não sendo profeta ou vidente, a sensibilidade genérica que adquiri pelos anos afora, observando o que se passa ao meu redor, em especial no segmento econômico e financeiro, faz-me prognosticar que vamos coletivamente ter de pagar caro pelas decisões erradas que atualmente (e desde uma dezena de anos passados) estão sendo tomadas.

Continuo acreditando muito no Brasil, mas sem dúvida alguma teremos urgentemente de virar o leme em outra direção, caso desejamos progredir num mundo cada vez mais egoísta, mais competitiva e menos ético. Nossas aparentemente inteligentes elites comerciais, industriais e financeiras deveriam tomar a iniciativa e fazerem valer suas vozes, caso quiserem participar de uma reviravolta necessária e não soçobrar no meio da tempestade que, infalivelmente virá caso não tomarmos medidas corretivas a curto prazo.

Já verificamos que a turma que hoje nos dirige não tem competência suficiente, pois as trapalhadas se fazem sentir em todos os segmentos da economia e das finanças. Gente, vamos despertar do pesadelo e da letargia e assumir o controle da mudança!

Louis Frankenberg, CFP®   11-06-2014