Jornal VALOR ECONÔMICO - página D1
Palavra do gestor:
A impossibilidade de adivinhar o amanhã e a diversificação
Louis Frankenberg
15/04/2010
Pessoalmente, não acredito em astrólogos, curandeiros, adivinhos, quiromantes, videntes, futurólogos,
profetas e cartomantes. Sempre desconfiei daqueles que insistiam demasiadamente quando elogiavam
resultados futuros de investimentos. Pior quando acompanhados daquela irritante e absoluta certeza de
que os encantos - que apregoavam seus arautos - iriam ocorrer em data certa e/ou com ganhos já
determinados.
Desconfio por definição de analistas, consultores e assemelhados que acreditam saber o que irá
acontecer no dia de amanhã. Alguns têm tanta certeza de si mesmos e são tão convincentes que levam
de roldão a todas as pessoas desinformadas, inseguras, incautas e ingênuas. Minha experiência comprova
que a maioria das pessoas adora receber recomendações ditas "infalíveis" dos chamados "entendidos",
pois desejam ardentemente acreditar que essas fontes são absolutamente seguras e confiáveis.
Acreditar na minha própria falibilidade significa, e o admito humildemente, que perdi muitos negócios
ao insistir na vida profissional em jamais querer dourar demasiadamente performance futura de
quaisquer investimentos que, acreditava, pudessem ser interessantes para meus clientes. Isso enquanto
meus concorrentes apregoavam suas certezas sem qualquer pudor!
Sobrevivi ao canto da sereia de vendedores e intermediários que, geralmente, pediam meu endosso às
propostas mais extravagantes que desejavam empurrar à clientela. Optei por não ceder em meus pontos
de vista e consciência por algumas poucas patacas.
A longa experiência vivida por mim, assistindo a tantos acontecimentos em nosso próprio país e pelo
mundo afora, me levou a esta conclusão tão radical e frontalmente diferente da maioria dos meus
colegas consultores, colegas de profissão.
Não posso esquecer de incluir a favor dessa minha argumentação os tantos desastres naturais que de vez
em quando ocorrem e outros provocados pelo próprio homem que apenas confirmam que existem muito
mais acontecimentos imprevistos do que queremos admitir. Alguém poderia prever os terremotos que
acabaram de ocorrer e as futuras consequências econômicas e sociais para nossos vizinhos Chile e Haiti?
Prefiro me abster em prever o que pode ocorrer com o câmbio de qualquer moeda, índice inflacionário
de algum país, valor de alguma ação etc. As argumentações acima descritas me fazem crer que jamais
se pode profetizar e nem tentar predizer o futuro imediato ou mais distante.
Durante os muitos anos em que atuo no ramo financeiro, vi países com situações econômico-financeiras
e sociais privilegiadas repentinamente perderem o equilíbrio e mergulharem na mais completa anarquia
financeira ou coisa pior.
Vejamos o que atualmente ocorre na Grécia, Portugal, Itália, Espanha e Irlanda. Alguém de sã
consciência pode acreditar que ninguém sabia do desequilíbrio financeiro existente há anos naqueles
países, antes que seus imensos déficits orçamentários viessem à tona ultimamente? Difícil de acreditar.
Será que os únicos culpados são as conhecidas agências de classificação e não as autoridades
fiscalizadoras dos respectivos países?
Quantas vezes no passado, aqui mesmo em nosso país, presenciei formas de investimentos de renda fixa
ou variável sendo elogiadas e recomendadas por todas as partes: jornalistas, autoridades e até por
profissionais qualificados, para posteriormente (dias, semanas ou meses) serem vilipendiadas, caindo na
desgraça de todos.
Em minha longa vivência profissional também vi empresas de renome internacional, cujas ações e
obrigações eram consideradas do tipo "triple" A, ou seja, absolutamente seguras, perderem quase todo o
seu valor de mercado e liquidadas ou então absorvidas por outros grupos.
Imagine se você tivesse investido a maior parte de suas reservas em alguma dessas empresas ou fundos.
Pior, se tivesse que depender, aposentado, do rendimento daquele investimento caído em desgraça.
Quero lembrá-lo, caro leitor, de que você não é imune a situações parecidas que hoje possam parecer
muito promissoras e infalíveis e, no entanto, talvez já incorporam hoje o vírus de sua futura destruição.
Jamais coloque todos os ovos na mesma cesta e, principalmente, não confie cegamente naqueles que
elogiam demasiadamente a qualidade dos ovos que lhe são oferecidos. Meu arcaico conselho continua
sendo: melhor pecar por excesso de precaução do que arrepender-se tardiamente!
Louis Frankenberg é planejador financeiro (Certified Financial Planner) e diretor da Associação
Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac)
E-mail: perfinpl@uol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário