segunda-feira, 19 de abril de 2010

A impossibilidade de adivinhar o amanha e a diversificação

Jornal VALOR ECONÔMICO - página D1

Palavra do gestor:

A impossibilidade de adivinhar o amanhã e a diversificação

Louis Frankenberg

15/04/2010

Pessoalmente, não acredito em astrólogos, curandeiros, adivinhos, quiromantes, videntes, futurólogos,

profetas e cartomantes. Sempre desconfiei daqueles que insistiam demasiadamente quando elogiavam

resultados futuros de investimentos. Pior quando acompanhados daquela irritante e absoluta certeza de

que os encantos - que apregoavam seus arautos - iriam ocorrer em data certa e/ou com ganhos já

determinados.

Desconfio por definição de analistas, consultores e assemelhados que acreditam saber o que irá

acontecer no dia de amanhã. Alguns têm tanta certeza de si mesmos e são tão convincentes que levam

de roldão a todas as pessoas desinformadas, inseguras, incautas e ingênuas. Minha experiência comprova

que a maioria das pessoas adora receber recomendações ditas "infalíveis" dos chamados "entendidos",

pois desejam ardentemente acreditar que essas fontes são absolutamente seguras e confiáveis.

Acreditar na minha própria falibilidade significa, e o admito humildemente, que perdi muitos negócios

ao insistir na vida profissional em jamais querer dourar demasiadamente performance futura de

quaisquer investimentos que, acreditava, pudessem ser interessantes para meus clientes. Isso enquanto

meus concorrentes apregoavam suas certezas sem qualquer pudor!

Sobrevivi ao canto da sereia de vendedores e intermediários que, geralmente, pediam meu endosso às

propostas mais extravagantes que desejavam empurrar à clientela. Optei por não ceder em meus pontos

de vista e consciência por algumas poucas patacas.

A longa experiência vivida por mim, assistindo a tantos acontecimentos em nosso próprio país e pelo

mundo afora, me levou a esta conclusão tão radical e frontalmente diferente da maioria dos meus

colegas consultores, colegas de profissão.

Não posso esquecer de incluir a favor dessa minha argumentação os tantos desastres naturais que de vez

em quando ocorrem e outros provocados pelo próprio homem que apenas confirmam que existem muito

mais acontecimentos imprevistos do que queremos admitir. Alguém poderia prever os terremotos que

acabaram de ocorrer e as futuras consequências econômicas e sociais para nossos vizinhos Chile e Haiti?

Prefiro me abster em prever o que pode ocorrer com o câmbio de qualquer moeda, índice inflacionário

de algum país, valor de alguma ação etc. As argumentações acima descritas me fazem crer que jamais

se pode profetizar e nem tentar predizer o futuro imediato ou mais distante.

Durante os muitos anos em que atuo no ramo financeiro, vi países com situações econômico-financeiras

e sociais privilegiadas repentinamente perderem o equilíbrio e mergulharem na mais completa anarquia

financeira ou coisa pior.

Vejamos o que atualmente ocorre na Grécia, Portugal, Itália, Espanha e Irlanda. Alguém de sã

consciência pode acreditar que ninguém sabia do desequilíbrio financeiro existente há anos naqueles

países, antes que seus imensos déficits orçamentários viessem à tona ultimamente? Difícil de acreditar.

Será que os únicos culpados são as conhecidas agências de classificação e não as autoridades

fiscalizadoras dos respectivos países?

Quantas vezes no passado, aqui mesmo em nosso país, presenciei formas de investimentos de renda fixa

ou variável sendo elogiadas e recomendadas por todas as partes: jornalistas, autoridades e até por

profissionais qualificados, para posteriormente (dias, semanas ou meses) serem vilipendiadas, caindo na

desgraça de todos.

Em minha longa vivência profissional também vi empresas de renome internacional, cujas ações e

obrigações eram consideradas do tipo "triple" A, ou seja, absolutamente seguras, perderem quase todo o

seu valor de mercado e liquidadas ou então absorvidas por outros grupos.

Imagine se você tivesse investido a maior parte de suas reservas em alguma dessas empresas ou fundos.

Pior, se tivesse que depender, aposentado, do rendimento daquele investimento caído em desgraça.

Quero lembrá-lo, caro leitor, de que você não é imune a situações parecidas que hoje possam parecer

muito promissoras e infalíveis e, no entanto, talvez já incorporam hoje o vírus de sua futura destruição.

Jamais coloque todos os ovos na mesma cesta e, principalmente, não confie cegamente naqueles que

elogiam demasiadamente a qualidade dos ovos que lhe são oferecidos. Meu arcaico conselho continua

sendo: melhor pecar por excesso de precaução do que arrepender-se tardiamente!

Louis Frankenberg é planejador financeiro (Certified Financial Planner) e diretor da Associação

Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac)

E-mail: perfinpl@uol.com.br

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