Louis Frankenberg, CFP® 31.07.2013.
Meus amigos, em 7/7/1994, portanto há 19
anos escrevi e publiquei a matéria que segue, dirigida principalmente a executivos.
Os ensinamentos expostos, entretanto, valem para todos meus leitores. Prefiro
acreditar que todos que leram a matéria na época, seguiram meus conselhos e
hoje tem suas vidas bem equacionadas. Como podem observar nada mudou em 19 anos e aos novos leitores desejo a
mesma coisa.
SONHO DE MUITOS, REALIZAÇÃO DE POUCOS
É próprio do ser humano jovem
e saudável dar pouca importância ao futuro. É muito mais cômodo e agradável
viver plenamente o dia de hoje do que preocupar-se com o dia de amanhã.
O executivo brasileiro - bem
de vida e com um bom emprego que o destaca da grande maioria da população - não
é nenhuma exceção. Entretanto, como temos observado nos últimos anos, ele é tão suscetível de perder todas as
conquistas como qualquer outro assalariado.
Aqueles que passaram por estas
vicissitudes sabem muito bem do que estamos falando. Para quem já atingiu um
determinado patamar, cair de padrão de vida em decorrência de ter sido
dispensado é muito difícil de digerir.
A inflação, aliada à
desorganização geral da economia no Brasil, provocou profundas alterações no
comportamento da população em geral. Todos, desde o operário até o executivo,
deixaram de planejar melhor seu próprio futuro financeiro. Como consequência
hoje em dia é comuns, em todas as classes sociais, raciocínios viciados. Muitos
acreditam que “é melhor gastar do que guardar” ou simplesmente desconfiam:
“Para que economizar, se vem um Collor e nos tira tudo?”.
Quem está preparado para iniciar um plano sistemático
de acumulação de capital.
Somente pessoas realmente
preocupadas em garantir a médio e longo prazo um futuro financeiro tranquilo e
despreocupado terão êxito com planos de acumulação de capital. Deve haver uma
determinação férrea em se evitar a dependência única do sistema oficial da
previdência social, ou dos filhos e familiares. Portanto, ter uma meta
determinada e desejar fazer certos sacrifícios em função dela é a premissa
fundamental.
É interessante notar que
algumas pessoas, em decorrência de não terem ainda um respeitável respaldo
financeiro em determinado momento de suas vidas, são geralmente mais
estressadas do que aquelas que já equacionaram razoavelmente a questão
financeira. Desprotegidas, estas pessoas não estão no comando de suas vidas.
Despreparadas financeiramente para lidar com a ocorrência de imprevistos eles serão
sempre dependentes de terceiros - bancos, amigos, parentes, etc.
Mesmo consciente da
necessidade de acumulação de capital através de um plano sistemático, o
executivo enfrenta uma série de obstáculos, que muitas vezes acabam por
funcionar como um desestímulo à poupança. Podemos resumir estes obstáculos em
duas categorias: de ordem pessoal e de ordem externa.
Obstáculos de ordem pessoal:
1 - Incapacidade
de meditar em profundidade sobre a repercussão futura da não tomada de passos
decisivos no momento.
2 - Desânimo
em relação à conjuntura econômico-financeira atual.
3 - Considerar
mais importante gastar em bens e serviços imediatamente, do que guardar uma
parcela para os imprevistos.
4 - Desinteresse
em aplicar nas opções existentes no mercado.
5 - Persistência
na ilusão de que o Estado paternalista vai tomar conta do indivíduo a partir da
aposentadoria.
Obstáculos de ordem externa:
1 - A taxa
inflacionária mensal que altera constantemente o poder aquisitivo do disponível
para aplicação.
2 - A
irregularidade dos reajustes salariais em relação à intenção de aplicar um
valor estável em cada mês.
3 - A dificuldade
de encontrar um indexador confiável.
4 - As
constantes alterações das regras do jogo e da legislação fiscal.
5 - Insuficientes
informações simples e transparentes recebidas das instituições financeiras
sobre a renda real dos investimentos (FULL DISCLOSURE).
Como e onde acumular as reservas financeiras
No Brasil, é pensamento
corrente que uma das poucas e efetivas maneiras de proteger-se da inflação é
investir no mercado imobiliário. O imóvel residencial é, geralmente, o primeiro
grande investimento - uma opção correta sob um ponto de vista patrimonial e
psicológico. No entanto, grandes capitais são posteriormente desviados para um
segundo ou terceiro imóvel, que pode ser um terreno, um sítio, uma casa de
praia. Este investimento muitas vezes é feito sem maior preocupação quanto à
liquidez ou valorização, satisfazendo apenas um desejo de posse, de imitação ou
de puro lazer.
Quando algum imprevisto
ocorre, não se pode vender isoladamente um banheiro ou um quarto para se cobrir
um rombo financeiro. Possuir um patrimônio não é apenas ter imóveis de pouca
liquidez ou difíceis de serem vendidos em determinadas épocas. O executivo
moderno deve ter pelo menos 30% a 50% do seu patrimônio em ativos financeiros
de alguma espécie, para poder considerar-se dono de seu próprio nariz e
destino, e não ser um escravo da empresa onde exerce suas atividades,
totalmente dependente da sua remuneração mensal.
O exemplo do maior país
capitalista do mundo, os Estados Unidos, mostra que a maior parte do patrimônio
dos executivos não está investida em imóveis. O único imóvel residencial muitas
vezes ainda possui uma hipoteca de 10 a 30 anos. O peso dos investimentos está
no mercado acionário, diretamente ou através de fundos de todas as espécies.
Parcelas significativas também estão investidas em contas de poupança,
certificados de depósito, obrigações municipais e federais, ou seguros de vida.
No Brasil, apenas uma parcela
pequena do patrimônio dos executivos está investida nos chamados mercados de capitais
e financeiros. A maior parte do capital está imobilizada em residências,
escritórios, apartamentos, terrenos, fazendas, etc.
Sinteticamente, três atitudes
quanto ao investimento podem ser desenhadas, de acordo com a idade e a posição
do executivo em sua carreira.
Executivo em começo de carreira (de 25 a 35 anos)
Nesta fase, o executivo deve
ganhar o suficiente para poder colocar uma parcela do salário em investimentos
para o longo prazo. Tal como nos Estados Unidos, no Brasil também o mercado
acionário tem tido a melhor lucratividade no longo prazo. Fundos de ações são
uma boa opção para quem deseja supervisão profissional para seu investimento.
Executivo com experiência (de 35 a 50 anos)
Nesta faixa, melhor
remunerado, o executivo pode eventualmente colocar uma parcela maior de seu
salário em investimentos a médio e longo prazo. O mercado acionário e os fundos
de ações continuam sendo a melhor opção. Uma pequena parcela pode ser colocada
em algum tipo de fundo de renda fixa, CDB ou poupança.
Executivo amadurecido (a partir dos 50 anos até a
aposentadoria, aos 60/65 anos).
As parcelas reservadas para
investimento devem ser direcionadas para aplicações estáveis, onde o realce
maior é dado ao crescimento do capital, com segurança. Carteiras de ações de
boa qualidade e fundos de ações cujos objetivos são o do crescimento do
capital, com reinvestimento dos dividendos continuam sendo a prioridade. Uma
parte substancial também pode ser investida em algum tipo de fundo de renda
fixa, CDB ou caderneta de poupança, para ter uma maior liquidez, em razão de
eventuais gastos imprevistos.
As três situações acima
citadas evidentemente devem também constantemente levar em conta os aspectos
fiscais individuais de cada executivo em relação às receitas globais, já que a
legislação tem tido inúmeras alterações, nos últimos anos. À medida que os
mercados de capitais e financeiros cada vez mais se integram numa economia
global, certos hábitos e vícios existentes em nossos investidores, sociedades
anônimas negociadas em bolsa, e instituições financeiras intermediárias
provavelmente também se alterarão, através de melhores organismos
fiscalizadores.
O sonho da independência
financeira de cada executivo, também passa por aspectos menos objetivos e mais
ligados à personalidade e filosofia de vida. As relações marido-mulher e
pais-filhos, por exemplo, são também determinantes no planejamento financeiro
futuro da família.
Apesar de ter havido um maior
entrosamento nas últimas décadas entre as maneiras de pensar de um casal, em
nosso país, a opinião do marido prevalece muitas vezes, quando se trata de
decisões financeiras. Nem sempre estas são sábias e equilibradas.
Este comportamento, nem sempre
racional, nos leva a classificar os executivos em três categorias, quando se
trata de administrar seu próprio patrimônio e não os da empresa: CONSERVADORES,
NEUTROS e AGRESSIVOS.
Ainda derivada da maneira de
agir dos mesmos, adicionalmente ainda podemos classificá-los em “Especuladores”
e “Investidores”. E uma sintética e simples definição destes poderia ser:
Especulador
É aquele que apenas está vendo
as árvores, e não a floresta. Sempre está à espreita de um lucro rápido em
curto prazo e constantemente alterando seus objetivos e aplicações. Ouvidos
atentos e olhos abertos, ele vai atrás de seus próprios palpites e informações
obtidas de outras fontes.
Investidor
É aquele que não olha para as
árvores, procura ver a floresta. Estuda antecipadamente as diversas opções
disponíveis e escolhe cuidadosamente seu(s) objetivo(s), que geralmente são
para o longo prazo. Prefere administração profissional e altera pouco seus
investimentos. Alcança passo a passo sua independência financeira, muito
consciente do que está fazendo.
É na categoria dos “Investidores”
que com maior probabilidade vamos encontrar aqueles executivos autodisciplinados
e que se propõem seguir um plano meticulosamente estudado, para alcançar a
independência financeira em longo prazo, contemplando suas metas e as da
família.
Genericamente e sem entrar em
detalhes irrelevantes quanto o escopo desta matéria, resumiremos alguns
aspectos que deveriam ser levados em consideração.
Administrador do investimento
Deve ser algum grupo
financeiro de ilibada reputação e um bom desempenho passada, e que também
ofereça informações periódicas e transparentes aos seus investidores.
Diversificação
Significa sempre diluir riscos
e uma provável diminuição de sustos resultantes de oscilações esporádicas dos
investimentos de renda variável é aconselhável. Caso o patrimônio global do executivo já
esteja diversificado, em aplicações financeiras, uma análise cuidadosa e
eventual revisão é sempre oportuna.
Louis Frankenberg,CFP®
e-mail; perfinpl@uol.com.br
e lframont@gmail.com
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