sábado, 29 de setembro de 2012

A quem será que estamos enganando?



  

 

Um libelo contra alguns absurdos financeiros
que acontecem em nosso país

 Louis Frankenberg, CFP® 29-09-2012    

É sobejamente sabido que quando há interesses comerciais ou financeiros envolvidos em algum tipo de investimento ou qualquer outro negócio em nosso país, cada personagem ou grupo puxa apaixonadamente por sua própria sardinha!

Eu que há anos leio, recorto e coleciono tudo que é informação a respeito de taxas de juros cobradas em transações a prazo, fico chocado com a imensidão e variedade de índices existentes, algumas razoavelmente próximos da realidade, outras extremamente absurdas, que vejo sendo publicados na imprensa escrita e pior, fartamente repicados por demais segmentos do mercado financeiro, comercial e incorporados inclusive pela sociedade civil.   

Tenho a impressão que ninguém liga ou se revolta com os estragos que esta anomalia provoca à economia como um todo e a todas as classes sociais e, em especial, aos de menor poder aquisitivo.  

A mixórdia da existência de diferentes índices e percentuais é uma verdadeira torre Babel, no qual o pobre e simples cidadão não tem qualquer possibilidade de chegar a qualquer conclusão para poder decidir racionalmente a respeito de suas transações financeiras com simplicidade e lógica.

Pobre destes nossos cidadãos mais simples que jamais recebem conveniente orientação financeira antecipada de entidades governamentais e quando o recebem, geralmente são para causar ainda maior confusão em suas cabeças.

O conjunto das entidades, organismos governamentais, associações de classe da iniciativa privada e poderosas empresas de mídia, que deveriam inclusive ter a missão de orientar, de fato criam ainda maiores questionamentos e dúvidas do que orientações positivas. 

Por essa razão mais uma vez vou ter que falar de juros e assuntos relacionadas com os mesmos. Espero que alguma autoridade governamental com suficiente poder político para decidir alguma mudança, leia este meu clamor por mudanças.

 
A diferença entre a taxa de juros oficialmente divulgada e a realidade do mercado   

 
Estou convicto de que enormes interesses mesquinhos de indivíduos, entidades governamentais e privadas, infelizmente exercem papel preponderante nesta divulgação de múltiplas e exageradas taxas, cifras, estatísticas e opiniões com propósitos muitas vezes deliberadamente enganosas e contraditórias.  Explico-me a seguir.   

Você que neste momento me lê, tente encontrar a taxa de juros menor (mais favorável) entre as inúmeras ofertas existentes em bancos, financeiras ou comércio em geral, caso pretenda adquirir algo a prazo ou mesmo contratar um eventual empréstimo.

Alardeia-se constantemente pelos noticiários da TV e jornais que, a taxa básica de juros (Selic) em nosso país atualmente é de 7,5% ao ano, porém vejam a seguir o que se encontra na prática em qualquer instituição financeira quando se necessita obter um empréstimo hipotecário ou pessoal e no largamente difundido cartão de crédito;

Na Folha de S. Paulo de 25 de Setembro último, a ANEFAC, (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), na qual eu também sou um dos diretores, meu colega de diretoria, Miguel de Oliveira, que deve ser o     estraga   prazeres de muitas autoridades e grupos financeiros, divulgou que em Agosto deste ano a taxa média anual  de juros do cartão de crédito foi de 238% e não de 7,5% como é oficialmente proclamado pelo   organismo máximo, que é nosso Banco Central! 

Na mesma página do jornal um estudo da empresa “Pró Teste” divulga que os juros rotativos do cartão podem alcançar os estratosféricos 878% ao ano!  Será possível essa infinita diferença?  Estamos no Brasil (8ª Economia do mundo) ou em algum minúsculo estado soberano em qualquer ilhazinha do Pacífico? 

Até eu, acostumado a interpretar índices controvertidos sendo divulgadas, estou pensando que estou perdendo meu equilíbrio mental, pois não consigo entender todas essas discrepâncias sem pé nem cabeça e não sabendo em qual acreditar.

Uma caprichada tabelinha gráfica confeccionada pela Folha de S.Paulo mostra naquele mesmo dia 25 de Setembro as taxas mínimas e máximas do BB, CEF, Bradesco, Santander, HSBC e Itaú. No rotativo do cartão de crédito do Bradesco, a taxa mínima era de 1,90% ao mês e o máximo sendo 15,95% ao mês, encontrava-se no HSBC! 

Sete vezes mais. Pode?

Na sopa de percentuais surrealistas deste seleto grupo constituído pelos seis maiores bancos do país ainda encontrávamos taxas de 2,27%, 2,88%, 3,85%, 4,65%, 5,65%, 6,90%, 8,9% e 9,9% tudo ao mês e não ao ano!

Acredito que estou em boa companhia, pois não somente eu, mas renomados economistas devem igualmente estarem confusos. 

Não desejo denigrir ainda mais nossos principais bancos mas, por favor, alguém  poderia por gentileza explicar para este confuso planejador financeiro estas incongruências?   Fico aguardando.

Viva a nova classe média

Quando leio as disparidades acima citadas, continuo pensando na divulgação do percentual de 52% da nossa população que são apresentadas orgulhosamente pelo Governo Dilma como sendo a nova classe média no país.

São quase 100 milhões de cidadãos que saíram da pobreza!  Estas cifras me enchem de orgulho e fazem a felicidade deste confuso escrivão, mas será que não estão exagerando na dose de ufanismo?     

Ninguém até agora conseguiu me convencer de que uma família constituída por 4 pessoas e que possuem renda bruta (eu repito bruta e não líquida) de R$ 291,00 per capita, ou seja, 4 x R$ 291,00 = R$ 1.164,00 por família e que aumentam seu rendimento até 4 x R$1.019,00 = R$ 4.076,00 no 3º subgrupo sendo o mais elevado dessa nova classe média.

Será que toda essa gente pode ser considerada como realisticamente sendo da classe média?

Até que é imaginável que o 3º subgrupo, sendo o mais elevado dentro da classe “C” e não aquela da família que se encontra no degrau inferior e que ganha mensalmente um montante bruto de R$ 1.164,00! (representando hoje aproximadamente 2 salários mínimos em São Paulo, ou seja, R$ 1.244,00).

O estudo acima mencionado é derivado do “Pnud-Brasil”, Programa de Desenvolvimento Humano,  em colaboração com um Programa das Nações Unidas e que foi  resumidamente divulgado em  20 de Setembro último pela própria Folha de S. Paulo (Caderno Mercado).  

Será que as Nações Unidas e entidades pesquisadoras como IPEA, IBGE, FGV, Federação do Comércio etc. consideram todas elas os mesmos fatores de como é calculado o índice inflacionário anual (poder aquisitivo da moeda), o peso dos impostos embutidos na cesta básica de alimentos, o descalabro do sistema público de saúde, o completo abandono das periferias dos nossos grandes conglomerados urbanos e ainda os deficientes sistemas de transporte coletivo, para calcularem o quanto de salário sobra no fim do mês para esta mesma classe média? 

E só de brincadeira desejo relembrá-los para que nenhum organismo governamental ou privado demasiadamente otimista se esqueça de embutir em seus cálculos que em média 25% do salário de todos nossos cidadãos classes “C” “C”, ”D” e ”E”, (isto é R$1.244,00 dividido por 4 é igual a R$ 311,00) desaparecem antecipadamente das receitas do orçamento doméstico dessas mesmas classes sociais, exatamente em razão dos juros e amortizações de empréstimos pessoais, cartões de crédito, financiamento imobiliário, prestações devido à aquisição de veículos e do pagamento de carnês!

Descontando esta fabulosa quantia de 25% ou seja, R$ 311,00, com quanto dinheiro esta família classe média terá de sobreviver aos 30 dias de cada mês? 

Para mim é óbvio que esta família classe média irá gradativamente se endividar cada vez mais e mais até se tornar inadimplente, inclusive em razão da publicidade e marketing enganosa existente, incentivando-a de todas as maneiras possíveis para sempre consumir mais que seu orçamento financeiro permite. Este incentivo também tem sido incentivado pelo próprio Governo Federal.

Por outro lado, eu daria um voto de louvor ao Governo Dilma, pois a taxa básica de juros, a tal de “Selic” caiu para incríveis 7,5% ao ano.

Nós humildes  cidadãos patriotas deveríamos comemorar felizes esta fantástica mudança de paradilma (ups, eu quis dizer paradigma). 

Gente, deveríamos gritar orgulhosamente para o restante do mundo de que finalmente rompemos o paradigma (não vou repetir o erro anterior) da pobreza absoluta! E mesmo sem gritos a renomada revista “The Economist” divulgou esta grande conquista, acredito sem qualquer sinal de desejar parecer irônico.

Confesso que sou um cético e que nenhuma pesquisa me parece confiável

Enfim, números diferentes, jornais diferentes, estatísticas diferentes, métodos diferentes!  

Vamos empurrar todos estes algarismos e percentuais sem importância para debaixo do tapete já que o Natal está batendo à porta e o carnaval ano 2.013 está quase chegando.

Como resultante destas minhas impertinentes observações acima feitas, só posso concluir de que nenhum dado estatístico e nenhuma pesquisa é plenamente confiável! 

Calma, ainda não terminei minha gente!  Continuem a ler, pois tenho mais munição para dar mais tiros para todos os lados. 

Por incrível coincidência (será mesmo?) leio também na revista virtual da ANEFAC, pela Internet, edição de 25/9 de uma nova pesquisa que foi efetuada pela empresa “Kantar Worldpanel”, e que diz que 52% do povo brasileiro encerrou o ano de 2.011 gastando mais do que ganhou, ou seja, traduzido para uma linguagem mais popular;

Estamos coletivamente endividados até o pescoço! Grande novidade, já sabíamos!

E confirmando o descalabro de índices, ontem 28 de Setembro, a Folha de S. Paulo publicou que a CNC, Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo informa que sua própria pesquisa revela que 58,9% das famílias estão endividadas em Setembro. Então são 52% em Agosto ou 58,9% em Setembro? Mas como é que fica se o Governo categoricamente afirma que o endividamento está diminuindo?

Empréstimos Consignados e outras histórias

E, meus caros leitores, não posso esquecer-me de mencionar que minha própria esposa, tendo contribuído por mais de 20 anos para o INSS como autônoma, recebe hoje um salário mínimo de aposentadoria.

Acreditem ou não, na época, o nosso querido Presidente Lula, em carta assinada pessoalmente por ele (ela está devidamente guardada), lhe recomendou expressamente quando lançaram o “Empréstimo Consignado” (inicialmente através de um único banco...) de que ela, a partir daquele momento, poderia obter um empréstimo dando como garantia aquele minúsculo salário mínimo, até o limite de 30% de sua miserável receita mensal, devolvendo-o em 36 meses. 

Gente, quantos telefonemas de bancos e financeiras diferentes recebemos desde então para ela tomar empréstimos que seriam descontados diretamente daquele único salário mínimo...

Tenho mais outra observação a fazer.

A nossa atual Presidenta, certamente mais esclarecida que o antecessor, quis dar uma de boazinha (é óbvio, com dinheiro do contribuinte) e ordenou que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil baixassem suas taxas de juros.

As duas instituições financeiras oficiais imediatamente obedeceram ao seu comando.

É muito fácil facilitar empréstimos quando uma dessas instituições é 100% estatal e a outra continua sendo parcialmente estatal, porém alimentada por negócios favorecidos e não necessitando dar lucro a não ser para uma pequena parcela de acionistas privados, que a ajudam a subsistir.

Ainda na semana passada li que o Tesouro Nacional sorrateiramente teve de dar à CEF alguns bilhões de reais para continuar fazendo esta fortíssima e desleal concorrência aos bancos privados, emprestando a juros subsidiados a quem quisesse.

Não tenho ideia de quem são os favorecidos que receberam os empréstimos para a Casa Própria e outras finalidades através da CEF, mas meu sexto sentido fareja uma futura necessidade de novo socorro, imaginando desde já que muitos destes favores jamais serão devolvidos.

Tal como ocorreu neste momento, o futuro socorro deverá vir do próprio Tesouro Nacional, isto é dos nossos impostos. Quem viver verá!

Boa parcela dos 52% pesquisados pela anteriormente mencionada “Kantar Worldpanel” e dos 58,9% pesquisados pela CNC certamente serão os futuros devedores inadimplentes da CEF!

Não lembro exatamente quando, mas não faz muito tempo li em alguma outra pesquisa que 85% da nossa população tinha algum tipo de dívida.  

Qual destes índices representará então a realidade, 52%, 58,9% ou 85%? Alguém possui mais algum diferenciado percentual para adicionar aos meus?

Por último e excepcionalmente vou defender os bancos privados

Não é que sinto pena de nossos bancos privados nacionais e os estrangeiros que aqui operam, mas em parte eles têm toda a razão de estarem absolutamente insatisfeitos com a injusta concorrência que atualmente estão sofrendo da CEF e do BB, pagando elevados impostos e contribuições, depositando razoável parcela dos depósitos recebidos compulsoriamente no Banco Central e ainda terem de arcar com o gradativo aumento da clientela endividada, forçados por taxas de juros artificialmente rebaixadas provocados pelos bancos oficiais.

Nossos bancos privados não têm ninguém que lhes estende as mãos quando seus capitais mais reservas financeiras estiverem esgotados, em razão de alguma crise econômica não provocados por eles ou devido ao crédito indiscriminado que concederam. Provavelmente em alguma data futura receberão como ressarcimento, em vez de dinheiro, automóveis batidos, imóveis em mau estado de conservação e ocupados ou então eletrodomésticos caindo aos pedaços.

Este solitário Dom Quixote e planejador financeiro gostaria muito de saber quando será que vamos ensinar aos nossos desorientados e esfomeados consumistas que     nunca perguntam qual a verdadeira taxa de juros que estão pagando, de como deveriam cuidar melhor dos seus orçamentos domésticos, para que pudessem planejar através de melhor orientação, seu próprio futuro por enquanto nada róseo?

Ensinamentos a respeito de educação financeira deveriam partir deste mesmo Governo que hoje gasta sem pensar (e sem investir suficientemente onde deveria) e igualmente arrecada demais, esfolando a iniciativa privada que, muitas vezes tem apenas como alternativa sonegar para sobreviver.

Caso desejarmos nos tornar um país com uma classe média verdadeiramente pujante e não apenas existente na publicidade fantasiosa das estatísticas oficiais, teremos de repensar um Estado de menor tamanho e nos preocupar muito mais com todas as formas de educação!

Gente me escapou a mão e por isso essa matéria ficou por demais extensa. Peço perdão.

 
Louis Frankenberg, CFP® 29-09-2012.

Blog; seufuturofinanceiro. blogspot.com

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