Um libelo contra alguns absurdos financeiros
que
acontecem em nosso país
É sobejamente sabido que quando há
interesses comerciais ou financeiros envolvidos em algum tipo de investimento
ou qualquer outro negócio em nosso país, cada personagem ou grupo puxa
apaixonadamente por sua própria sardinha!
Eu que há anos leio,
recorto e coleciono tudo que é informação a respeito de taxas de juros cobradas
em transações a prazo, fico chocado com a imensidão e variedade de índices
existentes, algumas razoavelmente próximos da realidade, outras extremamente absurdas,
que vejo sendo publicados na imprensa escrita e pior, fartamente repicados por
demais segmentos do mercado financeiro, comercial e incorporados inclusive pela
sociedade civil.
Tenho a impressão
que ninguém liga ou se revolta com os estragos que esta anomalia provoca à economia
como um todo e a todas as classes sociais e, em especial, aos de menor poder
aquisitivo.
A mixórdia da
existência de diferentes índices e percentuais é uma verdadeira torre Babel, no
qual o pobre e simples cidadão não tem qualquer possibilidade de chegar a qualquer
conclusão para poder decidir racionalmente a respeito de suas transações
financeiras com simplicidade e lógica.
Pobre destes nossos
cidadãos mais simples que jamais recebem conveniente orientação financeira antecipada
de entidades governamentais e quando o recebem, geralmente são para causar
ainda maior confusão em suas cabeças.
O conjunto das entidades,
organismos governamentais, associações de classe da iniciativa privada e poderosas
empresas de mídia, que deveriam inclusive ter a missão de orientar, de fato criam
ainda maiores questionamentos e dúvidas do que orientações positivas.
Por essa razão mais
uma vez vou ter que falar de juros e assuntos relacionadas com os mesmos.
Espero que alguma autoridade governamental com suficiente poder político para
decidir alguma mudança, leia este meu clamor por mudanças.
Você que neste
momento me lê, tente encontrar a taxa de juros menor (mais favorável) entre as
inúmeras ofertas existentes em bancos, financeiras ou comércio em geral, caso
pretenda adquirir algo a prazo ou mesmo contratar um eventual empréstimo.
Alardeia-se constantemente
pelos noticiários da TV e jornais que, a taxa básica de juros (Selic) em nosso
país atualmente é de 7,5% ao ano, porém vejam a seguir o que se encontra na
prática em qualquer instituição financeira quando se necessita obter um
empréstimo hipotecário ou pessoal e no largamente difundido cartão de crédito;
Na Folha de S. Paulo
de 25 de Setembro último, a ANEFAC, (Associação Nacional de Executivos de
Finanças, Administração e Contabilidade), na qual eu também sou um dos
diretores, meu colega de diretoria, Miguel de Oliveira, que deve ser o estraga
prazeres de muitas autoridades e grupos financeiros, divulgou que em
Agosto deste ano a taxa média anual de
juros do cartão de crédito foi de 238% e não de 7,5% como é oficialmente proclamado
pelo organismo máximo, que é nosso Banco Central!
Na mesma página do
jornal um estudo da empresa “Pró Teste” divulga que os juros rotativos do
cartão podem alcançar os estratosféricos 878% ao ano! Será possível essa infinita diferença? Estamos no Brasil (8ª Economia do mundo) ou em
algum minúsculo estado soberano em qualquer ilhazinha do Pacífico?
Até eu, acostumado a
interpretar índices controvertidos sendo divulgadas, estou pensando que estou
perdendo meu equilíbrio mental, pois não consigo entender todas essas
discrepâncias sem pé nem cabeça e não sabendo em qual acreditar.
Uma caprichada
tabelinha gráfica confeccionada pela Folha de S.Paulo mostra naquele mesmo dia 25
de Setembro as taxas mínimas e máximas do BB, CEF, Bradesco, Santander, HSBC e
Itaú. No rotativo do cartão de crédito do Bradesco, a taxa mínima era de 1,90% ao
mês e o máximo sendo 15,95% ao mês, encontrava-se no HSBC!
Sete vezes mais. Pode?
Na sopa de
percentuais surrealistas deste seleto grupo constituído pelos seis maiores
bancos do país ainda encontrávamos taxas de 2,27%, 2,88%, 3,85%, 4,65%, 5,65%, 6,90%,
8,9% e 9,9% tudo ao mês e não ao ano!
Acredito que estou
em boa companhia, pois não somente eu, mas renomados economistas devem
igualmente estarem confusos.
Não desejo denigrir
ainda mais nossos principais bancos mas, por favor, alguém poderia por gentileza explicar para este
confuso planejador financeiro estas incongruências? Fico aguardando.
Viva a nova classe média
Quando leio as
disparidades acima citadas, continuo pensando na divulgação do percentual de 52%
da nossa população que são apresentadas orgulhosamente pelo Governo Dilma como
sendo a nova classe média no país.
São quase 100
milhões de cidadãos que saíram da pobreza! Estas cifras me enchem de orgulho e fazem a
felicidade deste confuso escrivão, mas será que não estão exagerando na dose de
ufanismo?
Ninguém até agora
conseguiu me convencer de que uma família constituída por 4 pessoas e que
possuem renda bruta (eu repito bruta e não líquida) de R$ 291,00 per capita, ou
seja, 4 x R$ 291,00 = R$ 1.164,00 por família e que aumentam seu rendimento até
4 x R$1.019,00 = R$ 4.076,00 no 3º subgrupo sendo o mais elevado dessa nova classe
média.
Será que toda essa
gente pode ser considerada como realisticamente sendo da classe média?
Até que é imaginável
que o 3º subgrupo, sendo o mais elevado dentro da classe “C” e não aquela da família
que se encontra no degrau inferior e que ganha mensalmente um montante bruto de
R$ 1.164,00! (representando hoje aproximadamente 2 salários mínimos em São
Paulo, ou seja, R$ 1.244,00).
O estudo acima mencionado
é derivado do “Pnud-Brasil”, Programa de Desenvolvimento Humano, em colaboração com um Programa das Nações
Unidas e que foi resumidamente divulgado
em 20 de Setembro último pela própria
Folha de S. Paulo (Caderno Mercado).
Será que as Nações
Unidas e entidades pesquisadoras como IPEA, IBGE, FGV, Federação do Comércio
etc. consideram todas elas os mesmos fatores de como é calculado o índice
inflacionário anual (poder aquisitivo da moeda), o peso dos impostos embutidos na
cesta básica de alimentos, o descalabro do sistema público de saúde, o completo
abandono das periferias dos nossos grandes conglomerados urbanos e ainda os
deficientes sistemas de transporte coletivo, para calcularem o quanto de
salário sobra no fim do mês para esta mesma classe média?
E só de brincadeira desejo
relembrá-los para que nenhum organismo governamental ou privado demasiadamente otimista
se esqueça de embutir em seus cálculos que em média 25% do salário de todos
nossos cidadãos classes “C” “C”, ”D” e ”E”, (isto é R$1.244,00 dividido por 4 é
igual a R$ 311,00) desaparecem antecipadamente das receitas do orçamento
doméstico dessas mesmas classes sociais, exatamente em razão dos juros e
amortizações de empréstimos pessoais, cartões de crédito, financiamento
imobiliário, prestações devido à aquisição de veículos e do pagamento de carnês!
Descontando esta fabulosa
quantia de 25% ou seja, R$ 311,00, com quanto dinheiro esta família classe
média terá de sobreviver aos 30 dias de cada mês?
Para mim é óbvio que
esta família classe média irá gradativamente se endividar cada vez mais e mais
até se tornar inadimplente, inclusive em razão da publicidade e marketing
enganosa existente, incentivando-a de todas as maneiras possíveis para sempre
consumir mais que seu orçamento financeiro permite. Este incentivo também tem
sido incentivado pelo próprio Governo Federal.
Por outro lado, eu
daria um voto de louvor ao Governo Dilma, pois a taxa básica de juros, a tal de
“Selic” caiu para incríveis 7,5% ao ano.
Nós humildes cidadãos patriotas deveríamos comemorar
felizes esta fantástica mudança de paradilma (ups, eu quis dizer
paradigma).
Gente, deveríamos gritar
orgulhosamente para o restante do mundo de que finalmente rompemos o paradigma (não
vou repetir o erro anterior) da pobreza absoluta! E mesmo sem gritos a renomada
revista “The Economist” divulgou esta grande conquista, acredito sem qualquer
sinal de desejar parecer irônico.
Confesso que sou um cético e que nenhuma pesquisa me
parece confiável
Enfim, números
diferentes, jornais diferentes, estatísticas diferentes, métodos diferentes!
Vamos empurrar todos
estes algarismos e percentuais sem importância para debaixo do tapete já que o
Natal está batendo à porta e o carnaval ano 2.013 está quase chegando.
Como resultante
destas minhas impertinentes observações acima feitas, só posso concluir de que nenhum
dado estatístico e nenhuma pesquisa é plenamente confiável!
Calma, ainda não
terminei minha gente! Continuem a ler,
pois tenho mais munição para dar mais tiros para todos os lados.
Por incrível
coincidência (será mesmo?) leio também na revista virtual da ANEFAC, pela
Internet, edição de 25/9 de uma nova pesquisa que foi efetuada pela empresa “Kantar
Worldpanel”, e que diz que 52% do povo brasileiro encerrou o ano de 2.011 gastando
mais do que ganhou, ou seja, traduzido para uma linguagem mais popular;
Estamos coletivamente
endividados até o pescoço! Grande novidade, já sabíamos!
E confirmando o
descalabro de índices, ontem 28 de Setembro, a Folha de S. Paulo publicou que a
CNC, Confederação Nacional de Bens, Serviços e Turismo informa que sua própria
pesquisa revela que 58,9% das famílias estão endividadas em Setembro. Então são
52% em Agosto ou 58,9% em Setembro? Mas como é que fica se o Governo
categoricamente afirma que o endividamento está diminuindo?
Empréstimos Consignados e outras histórias
E, meus caros
leitores, não posso esquecer-me de mencionar que minha própria esposa, tendo
contribuído por mais de 20 anos para o INSS como autônoma, recebe hoje um
salário mínimo de aposentadoria.
Acreditem ou não, na
época, o nosso querido Presidente Lula, em carta assinada pessoalmente por ele
(ela está devidamente guardada), lhe recomendou expressamente quando lançaram o
“Empréstimo Consignado” (inicialmente através de um único banco...) de que ela,
a partir daquele momento, poderia obter um empréstimo dando como garantia
aquele minúsculo salário mínimo, até o limite de 30% de sua miserável receita
mensal, devolvendo-o em 36 meses.
Gente, quantos
telefonemas de bancos e financeiras diferentes recebemos desde então para ela
tomar empréstimos que seriam descontados diretamente daquele único salário
mínimo...
Tenho mais outra
observação a fazer.
A nossa atual Presidenta,
certamente mais esclarecida que o antecessor, quis dar uma de boazinha (é óbvio,
com dinheiro do contribuinte) e ordenou que a Caixa Econômica Federal e o Banco
do Brasil baixassem suas taxas de juros.
As duas instituições
financeiras oficiais imediatamente obedeceram ao seu comando.
É muito fácil
facilitar empréstimos quando uma dessas instituições é 100% estatal e a outra
continua sendo parcialmente estatal, porém alimentada por negócios favorecidos
e não necessitando dar lucro a não ser para uma pequena parcela de acionistas
privados, que a ajudam a subsistir.
Ainda na semana
passada li que o Tesouro Nacional sorrateiramente teve de dar à CEF alguns
bilhões de reais para continuar fazendo esta fortíssima e desleal concorrência
aos bancos privados, emprestando a juros subsidiados a quem quisesse.
Não tenho ideia de quem
são os favorecidos que receberam os empréstimos para a Casa Própria e outras
finalidades através da CEF, mas meu sexto sentido fareja uma futura necessidade
de novo socorro, imaginando desde já que muitos destes favores jamais serão
devolvidos.
Tal como ocorreu neste
momento, o futuro socorro deverá vir do próprio Tesouro Nacional, isto é dos
nossos impostos. Quem viver verá!
Boa parcela dos 52%
pesquisados pela anteriormente mencionada “Kantar Worldpanel” e dos 58,9%
pesquisados pela CNC certamente serão os futuros devedores inadimplentes da
CEF!
Não lembro exatamente
quando, mas não faz muito tempo li em alguma outra pesquisa que 85% da nossa
população tinha algum tipo de dívida.
Qual destes índices representará
então a realidade, 52%, 58,9% ou 85%? Alguém possui mais algum diferenciado
percentual para adicionar aos meus?
Por último e excepcionalmente vou defender os bancos
privados
Não é que sinto pena
de nossos bancos privados nacionais e os estrangeiros que aqui operam, mas em
parte eles têm toda a razão de estarem absolutamente insatisfeitos com a injusta
concorrência que atualmente estão sofrendo da CEF e do BB, pagando elevados impostos
e contribuições, depositando razoável parcela dos depósitos recebidos compulsoriamente
no Banco Central e ainda terem de arcar com o gradativo aumento da clientela endividada,
forçados por taxas de juros artificialmente rebaixadas provocados pelos bancos
oficiais.
Nossos bancos privados
não têm ninguém que lhes estende as mãos quando seus capitais mais reservas
financeiras estiverem esgotados, em razão de alguma crise econômica não
provocados por eles ou devido ao crédito indiscriminado que concederam. Provavelmente
em alguma data futura receberão como ressarcimento, em vez de dinheiro,
automóveis batidos, imóveis em mau estado de conservação e ocupados ou então
eletrodomésticos caindo aos pedaços.
Este solitário Dom
Quixote e planejador financeiro gostaria muito de saber quando será que vamos
ensinar aos nossos desorientados e esfomeados consumistas que nunca perguntam qual a verdadeira taxa de
juros que estão pagando, de como deveriam cuidar melhor dos seus orçamentos
domésticos, para que pudessem planejar através de melhor orientação, seu próprio
futuro por enquanto nada róseo?
Ensinamentos a
respeito de educação financeira deveriam partir deste mesmo Governo que hoje gasta
sem pensar (e sem investir suficientemente onde deveria) e igualmente arrecada
demais, esfolando a iniciativa privada que, muitas vezes tem apenas como
alternativa sonegar para sobreviver.
Caso desejarmos nos tornar um país com uma classe
média verdadeiramente pujante e não apenas existente na publicidade fantasiosa
das estatísticas oficiais, teremos de repensar um Estado de menor tamanho e nos
preocupar muito mais com todas as formas de educação!
Gente me escapou a mão e por isso essa matéria
ficou por demais extensa. Peço perdão.
Blog; seufuturofinanceiro. blogspot.com