sábado, 2 de julho de 2011

Ser precavido e cauteloso nunca fizeram mal a ninguém. O oposto sim!

Louis Frankenberg,CFP®

Na presente crônica tento me antecipar  às futuras crises em nosso país que, sinceramente espero, nunca mais  possam acontecer por aqui.
Entretanto, olhando o Brasil pelo espelho retrovisor, infelizmente tenho o dever de advertir  aos mais “chauvinistas”, aqueles preferindo desconhecer nosso passado  recente, de que  certamente novas crises  virão.   
Espero que você caro leitor me perdoa por assustá-lo com o que vou escrever a seguir e que, talvez não seja bem aquilo que você gostaria que eu lhe dissesse  por intermédio do meu blog.
Não posso, entretanto, deixar de revelar em voz alta, o que passei a  sentir desde a semana passada. 
Se você não agüentar realismo e prefere textos  otimistas  e a respeito de ufanismo, pare de ler esta crônica imediatamente e escolha para ler um livro com contos de fadas.
De qualquer maneira, na semana passada meu sub consciente subitamente alertou  meu consciente e, pensamentos menos positivos acorreram na minha mente. Tenho por hábito respeitar meu próprio instinto e por isso passo a pensar em voz alta. 
Em determinado dia da semana passada estava eu a ler com toda a atenção os principais jornais nacionais e também a minha   revista preferida, “The Economist”. A noite  costumo também  sintonizar noticiários  internacionais pela TV e Internet, BBC, Fox News e CNN quando subitamente na  minha mente ocorreu um  ensurdecedor click e caiu a ficha. Eis portanto, o porque desta crônica, fruto do tal de click.
Caro amigo leitor, este é o momento apropriado de dar um  chega pra lá e mudar para outro site caso você não gosta de alertas.
Vi e li alguns dos assustadores detalhes daquilo que atualmente anda ocorrendo  na Grécia. 
O país está super endividado, interna e externamente. Parece que tanto  seu Governo como seus  respeitáveis cidadãos gastaram demais  nestes últimos anos ou seja viveram uma vida irreal, além das posses e agora  não sabem como se livrar do enorme endividamento que construíram, precisando de fabulosos empréstimos dos demais países da zona do Euro para sobreviver.
Seres humanos preferem sempre melhorar suas condições de vida, nunca voltar  a um passado de pobreza e dificuldades, daí as revoltas resultantes na Grécia.
Em pano de fundo, mas nem por isso menos importante, e momentaneamente ofuscado pela Grécia, sabemos que aquele país  está em boa companhia. Problemas bem parecidos ocorrem também em Portugal, Irlanda, Islândia e também na Espanha e, em menor escala na própria Itália.
Problemas menos citados, mas igualmente sujeitos a eventuais chuvas e trovoadas estão, além dos países citados,  ocorrendo em países da  ex Europa Oriental.
Estive em Portugal e na Espanha nos últimos 12 meses. Em Madrid, vindo do aeroporto, passei por bairros inteiros de prédios recém construídos, porém completamente abandonados, sem potenciais compradores   ou inquilinos pagando algum aluguel.
Está faltando um mínimo de poder aquisitivo dos potenciais candidatos, me informou um motorista de taxi.
Em Portugal  os imóveis diminuíram  entre 15% e 20%  de seu valor  original e um nosso  familiar  que lá mora, teve a opção de ser demitido  ou aceitar uma  diminuição de 10% do seu salário...
Em nosso próprio país assisto a um vertiginoso aumento do crédito concedido para todas as modalidades de financiamento, trombeteado orgulhosamente  pelo Governo, mas sem que os respectivos tomadores dos empréstimos etc.   recebam suficientes informações sobre os enormes riscos que correm  ao ultrapassarem   os limites razoáveis de seus próprios ganhos. 
As altas direções das gigantescas construtoras nacionais e internacionais que brotaram em nosso solo   qual cogumelos nestes últimos anos, esfregam avidamente e felizes suas mãos e aproveitaram a ocasião para aumentar em talvez mais de  100% o valor dos imóveis  que constroem.
O deus lucro a qualquer preço, anda dominando muitas mentes... O tal do mercado que somos todos nos, acha tudo isso maravilhoso e, por enquanto, está eufórico e feliz. Por enquanto! 
Admito que sou um estraga prazeres e quero neste  meu modesto blog relembrar a todos o ditado de que “quando alguns ganham, outros perdem  e  de que não existe refeição grátis”.
Consultando  algumas das pesquisas que coleciono, verifico que nosso povo como um todo  não ficou 100% mais rico nos últimos tempos. Será que estou errado?
A atualmente sempre citada e glorificada classe sócio-econômica “C”, cantada em prosa e verso  por muitos economistas e que,  segundo eles, acaba de sair da pobreza (isto é classe “D”), apenas adquiriu uma frágil e fina película de verniz de poder aquisitivo mas, por outro lado, continua não possuindo nenhum dinheirinho na poupança para enfrentar desemprego e outros  imprevistos.  
Lamento informá-lo, caro leitor que é tudo embromação, pois  pagamos os mais altos tributos visíveis e  ocultos do mundo e  o índice  inflacionário continua sendo  bem mais elevada que a tal da meta de 4,5% ao ano, almejado pelo Banco Central.  
Recordo bem demais o que ocorreu recentemente nos Estados Unidos  com os malfadados  imóveis  super valorizados, financiados por duplas hipotecas e que agora  podem ser  adquiridos  pela metade do preço... será que isso não seria possível de ocorrer aqui em nosso país onde os ganhos per  capita da população como um todo é muito menor?
Ingenuamente pergunto se nossos bancos privados oferecem crédito na mesma escala quantitativa  e falta de análise  mais minuciosa dos financiados, como   atualmente estão atuando o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, que operam com dinheiro que não lhes pertence mas isto sim, é fruto de arrecadação de impostos? Com que dinheiro vão construir nossas estradas, pontes, portos, estádios para a copa do mundo etc?
Relembro vivamente igualmente daquilo que ocorreu há alguns anos na Argentina (onde por pouco tempo  morei  e trabalhei e por isso conheço razoavelmente bem aquele país).
Nos anos áureos os argentinos vinham para cá e tomavam conta de nossos hotéis e praias, pois a moeda deles estava super valorizado e a nossa própria  moeda minguadinha, precisando de fortificante.
Então subitamente lá ocorreu o maior dos desastres e a classe média argentina virou classe “C” e até hoje ainda não se recuperaram.  Isto não pode se repetir por aqui?
Comparo aquela suprema  desgraça dos argentinos devido a taxa cambial valorizada de alguns anos passados  com a nossa atual taxa de câmbio. Segundo alguns economistas, ela se encontra 45% acima da realidade. Os nossos  exportadores de produtos industrializados, com toda a razão,  se queixam amargamente, pois não conseguem concorrer com a China  e tantos outros países.
Os industriais e comerciantes, também não conseguem produzir e concorrer (sempre os chineses) devido aos elevados tributos embutidos na produção, além da  mirabolante  burocracia existente, pois os preços externos que obtém  por suas mercadorias, não pagam o custo de produção (novamente devido ao câmbio desfavorável). 
Não está longe o dia em que fecharão suas unidades fabris e comerciais e então os chineses dominarão por completo nosso mercado interno de aproximadamente 200 milhões de brasileiros. É muito provável que eles também serão os donos da maioria de nossas unidades fabris! Espero estar equivocado.
Mas por outro lado as classes sócio econômicas A, B e C estão muito felizes (e igualmente os agentes de turismo e companhias de aviação) pois hordas de brasileiros estão invadindo, como nunca antes, outras terras, principalmente os Estados Unidos com um dólar artificialmente barato, gastando bilhões lá fora em eletrônicos, roupas, telefones celulares de ultima geração, além dos habituais passeios. 
Será que esta farra de queimação de dólares e euros vai durar para sempre? ( é bom não esquecer o que citei mais acima  a respeito do que aconteceu na Argentina.)
Em compensação os turistas estrangeiros vindos da Europa, Ásia e America do Norte não querem mais nos visitar, pois internamente somos atualmente demasiadamente caros em relação a terras tão lindas quanto as nossas que eles podem visitar.
Mudando de enfoque e na condição de planejador financeiro, observo inquieto os novos ”IPOs”  sendo anunciados em letras garrafais em jornais e outras mídias, como se fossem pipocas explodindo a torto e a direita. Inúmeras empresas (algumas de fato qualificadas, outras provavelmente apenas atrás de lucros fáceis a custa de investidores ingênuas e inexperientes e ainda os fundos de pensão que na atualidade estão em fase de acumulação de patrimônio, mas pouco se preocupam com  os  aposentados aos quais precisam futuramente dar  uma vida decente).  
Poderosos grupos financeiros como bancos e corretoras, procuram  jogar o preço dessas novas ações  durante o lançamento no  patamar mais elevado possível, geralmente  acima de valores  racionais  e fico  imaginando quantas delas  manterão suas cotações no mesmo nível ou acima da oferta inicial, quando a realidade da lei da oferta e da demanda  passa a ocorrer na livre negociação posterior.
Lembro aos afoitos jovens que desconhecem as crises que certamente vão acontecer  em algum momento futuro e incerto. Estes jovens e outros não tão jovens poderão perder boa parte do seu capital. Portanto escolham empresas solidas, bem estruturadas, tradicionais, transparentes, honestas e conhecidas, aquelas que já demonstraram  serem confiáveis!
Posso até adivinhar  algumas das misteriosos conseqüências  do surgimento de algumas das novatas em  nossa BM&FBovespa;
empreendedores e empresários ricos, intermediários financeiros tendo obtido um bom quinhão do lucro na colocação das ações e milhares de acionistas  enganados e arrependidos,  lambendo feridas e, quem sabe, jurando nunca mais confiarem no mercado acionário.  Investidor, saiba que não é de hoje que alguns ganharam muito nas Bolsas do mundo inteiro e muitos também perderam até as calças!
Da mesma maneira vejo alguns dos Fundos Imobiliários  que ultimamente  estão tão em voga.  
Mesmo sem ler os detalhes dos enfadonhos prospectos, vislumbro  aspectos que não me inspiram confiança e não tenho a mínima vontade em possuir suas cotas, tal  a provável concentração   dos recursos  que vejo canalizados para determinado segmento muito restrito. Vejo sim, interesses mesquinhos sendo perseguidos por seus controladores. Recortei a oferta de um desses fundos do jornal e sem querer revelar o nome, o  acompanharei  por algum tempo. Muito   me admiro que a própria CVM deu permissão para este fundo investir os recursos da maneira como pretendem fazê-lo.
Segundo o Banco Central o crescimento da totalidade do “crédito  concedido”, divulgado recentemente, este ampliou-se em 18% nos últimos 12 meses.  Qual será o percentual desse novo contingente de   devedores  que analisaram cuidadosamente se terão capacidade de liquidar seus empréstimos e hipotecas?
Quanto aos administradores das diversas siglas existentes de  cartões de crédito, estes cavalheiros orgulhosamente anunciam  que a quantidade de plásticos em circulação é cada mês maior.  Pela pregação dos mesmos parece até  que estes novos endividados são  cada vez mais prósperos. Raramente encontro informações fidedignas  que informam a quantidade de pessoas  atrasadas em suas obrigações ou  até mesmo  inadimplentes.  
Numa das raras ocasiões encontro escondido em uma página central do Estado de S.Paulo do dia 22/6 a informação de que em Curitiba 85% das pessoas estão endividadas.
Valor média da dívida de cada devedor; R$1.608,00 significando  este montante um elevado 27% de comprometimento da renda individual. 
Em Porto Alegre o endividamento médio é de R$ 2.145,00  correspondendo a 30% da renda de cada devedor.
Em Natal  a média de endividamento é de R$ 1.531,00 correspondendo a 39% do orçamento doméstico de cada uma dessas pessoas.
A Anefac, Associação na qual sou um dos diretores, em Maio deste ano divulgou as seguintes taxas de juros médios anuais praticados no país; juros no comércio; 95,15% - no cartão de crédito; 238,30% - no cheque especial; 155,20% - através do empréstimo bancário;74,52% e através do empréstimo em financeira; 196,50% . Conhecendo-se os percentuais de alguns desses itens citados acima, não consigo  acreditar que qualquer pessoa  inteligente queira queimar  27% - 30% ou até 39% dos seus ganhos   e voluntariamente ingressar no rol dos cada vez mais endividados.   
Caros leitores, a aquisição de uma moradia ou de um veiculo ou mesmo de um eletro doméstico a prazo deve ser objeto de cuidadosa análise e avaliação, sob tantos  aspectos diferentes... principalmente em função do percentual da taxa de juros anual a ser paga e do percentual do orçamento doméstico que   será comprometido.
Espero sinceramente que aqui em nosso  próprio país não vamos  enfrentar  crise  futura igual  aos que   ocorreram no  passado e que hoje também estão acontecendo nos países da Europa. 
O Brasil está inserido no mundo e mesmo que estejamos no momento atual atravessando um período melhor, não estamos de maneira alguma isentos de crises importados lá de fora ou provocados por nos mesmos.
Em 01/06/2011 publiquei neste blog a crônica denominada “A maior diferença entre nações endividadas e famílias endividadas”. A atual crônica pode ser considerada  uma continuação daquela. Procure-a caso não a tenha lida. Finalizo novamente com o título;
Ser precavido e cauteloso nunca fizeram mal a ninguém. O oposto sim!
E um forte abraço,

Louis Frankenberg,CFP®  - 03.07.2011



Um comentário:

Anônimo disse...

Louis, você não está sendo um pouco protecionista? Se nos comportamos como uma nação de idiotas, é mais do que justo que o capital fuja de nossas mãos (e vá procurar mãos chinesas).

Elegemos políticos analfabetos.

Nossos empresários estão sempre com a boca aberta esperando que o alimento ($ BNDES/intervenção do governo) caia do céu. É aquela velha estória do filho que quer casar e ser independente dentro da casa dos pais e com mesada.

O Presidente aparece na TV ordenando que o povo gaste e é exatamente isto que o brasileiro médio faz em seguida. O nosso típico Homer Simpson (ou Macunaíma) não tem o mínimo interesse em gerir as próprias finanças.

Se é isso que o povo quer, então que seja feito. Só espero ter um bocado de dinheiro para dar uma boa especulada quando o Brasil acordar com ressaca no dia seguinte.

O dinheiro sempre flui, e eu espero estar na outra ponta (junto com os chineses, claro).

Sinto pena dos Macunaímas, estas mariposas que hoje estão se entupindo de crédito e vivendo muito acima de suas posses (nova classe média?) e que vão depender do governo no futuro. A única coisa que posso fazer é cuidar para não ser no futuro mais uma sombra nesta massa.