quarta-feira, 1 de junho de 2011

A maior diferença entre Nações endividadas e Famílias endividadas

Louis Frankenberg,CFP®

Nações endividadas
Até os dias atuais continua repercutindo a crise financeira que afetou  profundamente até as mais  ricas  nações do globo. O abalo ocorreu há  aproximadamente  três  anos  e nenhum economista até hoje se arrisca a dizer em voz alta o que ainda possa ocorrer...
É conclusão quase unânime que os desequilíbrios existentes ainda não foram eliminados. Prova maior  encontra-se em países como Grécia, Irlanda e Portugal que,  presentemente lutam para pagar seus compromissos financeiros e endividamentos públicos e privados que, gradativamente foram sendo acumulados nestes últimos anos.       
O período pós 2ª guerra mundial, com certeza produziu sociedades e populações ricas, altamente produtivas e eficientes, porém  igualmente  desperdiçadoras e extremamente consumistas.
Em minha modesta opinião, mesmo Governos e Bancos Centrais de países ditos desenvolvidos  não têm   coragem política suficiente para  adotar políticas que evitem  que  suas moedas  aos poucos percam o valor aquisitivo  ou então que suas reservas    financeiras  não diminuam perigosamente.
Encontrar o equilíbrio estável em  época como a atual na qual empresas tradicionalmente sólidas repentinamente passam a se desequilibrar financeiramente e  ainda outras novas  que se destacam  em razão das  avançadas tecnologias,  são apenas alguns dos efeitos que mudam  situações econômica financeiras  de diversas nações rapidamente.
Na União Européia, o Euro, há mais de um decênio a moeda comum  de quase todo o continente, até arrasta consigo os países mais conservadores como por exemplo Alemanha e Holanda, que tem  governanças mais austeras, auto controlando-se e não permitindo que nem o próprio Estado nem suas populações ultrapassem certos limites de extravagância. 
Imensas diferenças culturais se fazem  sentir quando se compara alguns desses países da zona do Euro entre si, uns vivendo mais comedidos, outros mais desperdiçadoras e menos ortodoxos, analisados sob um ponto de vista apenas financeiro. 
O custo exigido para corrigir essas distorções orçamentárias costuma sempre ser muito alto e  os diversos segmentos da população mais duramente atingida pelas tentativas de introdução de medidas de austeridade, normalmente  não quer de nenhuma maneira saber de diminuir privilégios previamente  conquistados.
As conseqüências são greves, manifestações de rua, desemprego, diminuição de salário,  exigências  por parte de governos de aumento da idade da aposentadoria e outras medidas de austeridade, como neste momento estão acontecendo na França, Grécia e Portugal.
Vocês se lembram da fábula de Aesopo da Cigarra e da Formiga? Pois é perfeitamente possível comparar Nações mais austeras e controladores  com outras menos convencionais e  mais liberais de acordo com aquela fábula.
Quando, entretanto, uma Nação perde o rumo financeiro e se encontra a beira do abismo, geralmente existe um Fundo Monetário Internacional ou um Banco Mundial através da qual é obtida  alguma forma de acordo para  salvar a ovelha  negra  perdida.
Reuniões de Chefes de Estado e Ministros das Finanças são urgentemente organizadas e empréstimos são rapidamente concedidos a taxas de juros privilegiadas e prazos  bastante convenientes.
Pronto, a ovelha perdida é salva dos lobos ( mas não necessariamente de seus maus hábitos). 
Os elevados custos desta operação de salvamento é dividido entre todas as  outras Nações que,  indiretamente teriam bem maior prejuízo, caso a ovelha desobediente não fosse recuperada...
Convenientemente chamamos a este tipo de operação de “Supremos Interesses de Estado”.
Famílias endividadas
Mas onde nesta história entra  então o indivíduo ou mesmo uma  família inteira? 
Ora, a resposta é muito simples e geralmente  sou eu transformado momentaneamente    em médico financeiro da família que tem dado os avisos prévios do eminente perigo enfrentado pelas pessoas, quando estes se  endividam demasiadamente e  também   sou eu  que acabo muitas vezes propondo  soluções quando o caldo já entornou.
Desejo comparar o indivíduo ou então uma família inteira às Nações, pois  estes últimos também gradativamente se endividam além de suas possibilidades  e, às vezes, em  níveis até mais angustiantes,  quando então  podem chegar até a inadimplência ou completa insolvência.  
Querem saber quais são as principais causas? Posso resumir algumas delas;     
·        Crédito concedido com demasiada liberalidade por bancos, administradoras de cartões, grupos imobiliários, concessionários de automóveis, comerciantes etc. 
·        Vontade por parte de uma pessoa em possuir todos os objetos do desejo em pouco tempo ou de uma só vez.
·        Falta de controle eficiente de uma pessoa ou família sobre os limites de suas receitas e o próprio orçamento doméstico.
·        Inexistência de  uma razoável reserva financeira acumulada para os dias de chuva e  as intempéries, isto é  os tais de imprevistos que a todos acontecem.
·        Filhos a quem nada se nega e que são demasiadamente mimados ( tornando-se igualmente excelentes consumistas) e que por esta mesma razão  jamais vão estar preparados para enfrentar situações adversas em suas vidas.
·        Ocorrências como doenças, perda de emprego, acidentes  etc.
 
Caros amigos, acabamos de chegar na  principal diferença existente entre Nações e Indivíduos ou Famílias. Enquanto as primeiras serão socorridas rapidamente, nós, míseros plebeus sem importância e descartáveis, geralmente vamos ser jogados aos leões ou passar por períodos muito ruins, pois provavelmente  nenhuma fada madrinha irá surgir  com interesse  suficiente em  nos ajudar a sair da arapuca em que  nós mesmos nos metemos.
Admita! Você em uma dessas situações  estará  completamente sozinho(a) para resolver seu doloroso dilema  de como se salvar da catástrofe.
E  caso você  não acredita neste humilde planejador financeiro, dê uma espiada nos jornais,  cartórios de protesto e órgãos de defesa do consumidor que contam tristes histórias acontecidas....
Lamentavelmente, o Brasil dos dias atuais foi transformado em um imenso caldeirão transbordando de controvertidos  e desleais interesses de todas as matizes  e formatos tais como; 
·        O Governo (Município, Estado e Federação) esfomeado e ganancioso desejando arrecadar cada mês mais tributos acima dos atuais 37% do PIB e oferecendo em troca cada vez menos segurança, saúde e educação aos seus cidadãos.
·        O comércio também que só pensa em faturar  cada vez mais para ter capacidade de  enfrentar a imensa, incontrolável e cada vez maior burocracia administrativa existente e  ainda  ter de pagar as montanhas de tributos  que também lhe são impostos. ( ver  no meu blog a matéria “O imposto que nos é imposto” de 01/07/2010)
·        As vorazes administradoras de cartões de crédito e bancos que gostariam que você   usasse    pelo menos uma dúzia desses perigosos plásticos oferecidos em todas as cores do arco íris e cujos dirigentes rezam para que você  não salde suas aquisições dentro do prazo de vencimento de 30 dias, mas sim pague os elevados juros. 
·        Os bancos e seus gerentes de relacionamento  que  gostariam imensamente que você não usasse apenas sua conta corrente para pagar as despesas, mas investisse seu salário inteirinho  para adquirir  seus sofisticados produtos financeiros e permanecesse com os mesmos por longos períodos.
·        Sua namorada(o), companheira(o) ou  mulher/marido  que o tempo todo tenta lhe convencer para  passarem as próximas férias em algum lugar paradisíaco  e que certamente irá lhe custar  os olhos da cara e  mais outro endividamento bastante elevado.
·        O nosso eterno INSS, Instituto Nacional de Seguro Social,  credor de todo trabalhador ativo no país adoraria  que  fosse ampliado  obrigatoriamente a idade em  que em que precisa lhe devolver o que você   pagou durante a vida toda. Você ao contrário, gostaria de se aposentar o mais cedo possível, sonho que cada vez se torna mais distante.
·        Seus filhos insistentes e persistentes  para que você lhes desse todos os joguinhos eletrônicos existentes e ainda aqueles a serem lançados, fora celulares e outros brinquedinhos eletrônicos.
·        O enorme interesse das montadoras e vendedores  que vendem esses cobiçados e luxuosos carros, com todos os penduricalhos possíveis e que fazem um marketing agressivo  para que você adquira esses monstrinhos devoradores de grande parcela de seu salário.
E ao finalizar de enunciar todos estes empecilhos para que você  possa ser mais feliz, (será que vai se tornar mesmo?) é  óbvio de que você seja um candidato ideal  para passar dos limites de seu orçamento e tornar-se mais um dos milhares  (ou já serão milhões) de inadimplentes deste nosso imenso país.
Mas, você se esqueceu de que ninguém, ninguém mesmo vai  lhe tirar da sinuca em que se meteu,  quando é confrontado  com todas  essas  tentações que  acabei de apontar.
Imagino que você não tem nenhum FMI ou Banco Mundial atrás de si e que possa lhe salvar.
Amigão e amigona, convençam-se de que vocês estão sozinhos(as) no mundo!
O melhor que podem fazer é agora mesmo dar-se conta de que são apenas   micro organismos, sem qualquer interesse  maior para os poderosos que dominam o mundo.
Aprendam, portanto a  não querer tudo ao mesmo tempo. Vão devagar e com cuidado que vocês chegam lá com mais segurança e acabando por serem mais felizes.
Palavra de alguém que sabe do que está falando.
Abraço,
Louis Frankenberg  - S. Paulo 01-06-2011
 


   

Nenhum comentário: