terça-feira, 1 de março de 2011

Lendo e interpretando notícias a respeito de ações e de mercados

Esta crônica em formato  abreviado está sendo publicada hoje 01.03.2011 no Caderno D5 do Jornal Valor Econômico.


Não tenho a pretensão de ensinar o padre a rezar missa nem escrever algo inédito a respeito de ações.
Sou movido apenas pela vontade de colocar no papel algumas constatações aos meus amigos leitores, internautas ou não, alguns demasiadamente jovens para avaliar com exatidão o nível de risco em que  possam estar correndo, outros por demais sôfregos em conquistarem  o pote de ouro no fim do arco íris. 
Gente, as minhas colocações nada mais são do que repassar experiência e ter certeza de que  lógica,  bom senso e manter os pés firmes no chão é que devem dominar nossas atitudes  em relação a qualquer negócio em que nos metemos. Isto vale inclusive para o mercado acionário.
Por essa razão juntei algumas informações publicadas nos dias 21 e 22 de Fevereiro  último no Jornal Valor Econômico, comentando-as sem maior profundidade, mas tendo como pano de fundo os muitos anos em que vejo ocorrências passadas se repetirem lá fora, mas também em nosso próprio país.
Preparados? Então vamos lá.   
Título; “Brasil  ainda se mostra um mercado atraente”.
Um lindo gráfico mostra os indicadores  estimados para 2011. Vou apenas abordar a relação preço da ação versus lucro de diversos países, que tem o significado de explicar  em quantos anos, com o dividendo obtido você paga o que lhe custou aquela mesma ação.
Minha primeira observação genérica é de que sempre fico imaginando como é que os sabichões  que formulam estes índices sabem o que vai acontecer por exemplo em 10 anos com uma empresa em relação ao valor dos dividendos pagos, pois só conhecem os números dos anos passados e não dos futuros. Jamais podemos esquecer que o índice é um dado estático e momentâneo e não uma tendência ou certeza para o futuro.
Mas aceitando o fato, e sabendo que não sou nenhum iluminado, mas mesmo assim acompanhando há muitos anos mercados acionários de diversos países, acabei aceitando que uma boa e saudável relação P/L (preço/lucro) se encontra  entre  8 e 12 anos.  Aí vejo no gráfico que a relação das ações chineses atualmente são de quase 44 anos para alguém se ressarcir do preço de compra! A da Turquia é de 27 anos, a da Rússia é de quase 23 anos.  Felizmente o do Brasil é  de 12 anos  e isto me dá alento em poder dizer que aqui talvez seja  uma  boa hora para a  compra de algumas ações com PL baixo e perspectivas altas!
Mas qual ação? Acontece que o gráfico em questão é o do índice geral do país e não de alguma empresa específica. Portanto muito cuidado com empresas brasileiras ou estrangeiras cujo índice anda por cima de 20, por exemplo.
Me perdoem, mas ao escrever esta crônica me ocorre  que a Lei da Gravidade é traduzido popularmente para o adágio; ‘tudo que sobe cai”. Por que será? Posso jurar que atualmente  não entro nem no mercado chinês, nem no da Turquia e nem na da Rússia! Conheço bem demais  o que acaba acontecendo qualquer dia, mês ou ano desses!
Vejo outra notícia que  chama minha atenção;
“CVM identifica problemas nos balanços”. Esta me dá verdadeiros calafrios. Diz textualmente; “O principal problema identificado é a omissão de informações relevantes nas notas explicativas”.
Nunca fui dirigente de alguma empresa de capital aberta, mas posso até imaginar a conversa que houve entre quatro paredes entre os principais dirigentes de uma hipotética sociedade anônima e seus  contadores e auditores na hora  da finalização do balanço anual e que será em seguida publicado nos principais jornais do país.
“Fulano você não pode disfarçar essas informações menos positivas (...eufemismo para algo muito ruim  que ocorreu na empresa) de maneira que não ofuscam nosso  fabuloso faturamento que foi 100%  superior  a  do ano passado? ( ...e para o qual vamos dar o devido destaque) ???
De olho no balanço a ser publicado, de olho na quantidade de ações possuídas pelos diretores e de olho no tal de “mercado”, estranhas coisas podem ser imaginadas e feitas por pessoas inescrupulosas e de fato acontecem como está sendo sinalizada pela CVM.
Bem que nossa entidade máxima  do mercado acionário tem razão para cavoucar e tentar delimitar os abusos.
Aquela pequena nota no jornal para mim é suficiente para por em dúvida a tal de “transparência” e “honestidade de propósitos” daquela empresa que cometeu essas infrações. Terei maior cuidado ao adquirir suas ações.
Felizmente ainda somos um país  suficientemente democrático para que a seguinte notícia no Valor Econômico  de 22 de Fevereiro me chamasse muita atenção;
“Petrobrás gera bate-boca no Rio”
Trata-se de um desentendimento verbal entre o Presidente da Petrobrás, Sr. Gabrielli que defendeu o processo da última subscrição de ações da empresa com o Chefe Economista do Santander, Sr. Schwartsman que, indiretamente, teria chamado o processo de “contabilidade criativa”.
Não é sem razão que o mercado até hoje não engoliu aquela gigantesca transação que serviu para colocar por baixo do tapete muita podridão.
Sem dúvida alguma, algumas das notícias relatadas nesta crônica, provenientes do Jornal Valor se entrelaçam de alguma maneira, apesar de uma nada ter a ver   com a outra... 
Passo agora para uma matéria  da Lucy Kellaway que é também colunista do Financial Times e que o jornal Valor Econômico gentilmente traduziu. O título é;
“Fale como um perdedor para poder se tornar um vencedor.”
Essa matéria tem muitíssimo a ver com um nosso brasileiríssimo  costume, pois trata do problema de colocar sempre  em destaque aspectos  positivos e tentar diminuir ou mesmo esquecer de mencionar aspectos negativos. É irrelevante a parte da crônica que trata dos personagens envolvidos,  mas o texto tem tudo a ver com a nota da CVM de que falei mais acima. Um personagem em um vídeoclip  da CNN  diz  sem rodeios;
“Não permito conversas de perdedor na  organização”. Aquela mesma empresa em seguida  recebeu dois mil votos de congratulações de bajuladores! (em nosso país igualmente temos o tal de cordão dos puxa sacos). Mais adiante diz textualmente a autora da matéria;
A insistência na conversa triunfalista não é apenas vulgar  e antiquada, é também estúpida e perigosa. Abster-se de usar o negativo significa que metade da visão da pessoa está obscurecida”.(referindo-se aos otários que são os compradores das ações)
Digo eu Frankenberg que li toda a matéria de que  antes de ser vulgar e antiquada,   é indecente, é pura enganação e é anti ético e de que esta atitude pode causar enorme prejuízo àqueles que adquiram ações de uma empresa que apenas divulga aspectos positivos  e tenta esconder seus erros e eventuais  prejuízos em notas obscuras e pouco esclarecedoras no pé da página e em letras minúsculas.
Este escrivão chegou a conclusão de que em sua própria vida ganhou muito mais ao sempre citar e apontar tantos os aspectos positivos quanto os negativos em qualquer investimento para seus clientes.
Desconfiem sempre  de empresas do mercado acionário que douram  demasiadamente suas pílulas.
Pés no chão e vamos favorecer a compra de ações de empresas verdadeiramente honestas, cujas diretorias não têm medo de divulgar a verdade, mesmo que  essa  medida momentaneamente possa afetar o preço de suas ações.

Louis Frankenberg,CFP®   24-02-2011

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