segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Relembrando uma experiência do passado e de como não investir, ambos vistos pelo espelho retrovisor

Há exatos 20 anos comecei a fazer palestras, administrando seminários e a escrever em revistas a respeito de assuntos que tinham tudo a ver com o comportamental humano e sempre relacionados ao planejamento financeiro de investidores.

Ainda nos encontrávamos em pleno período inflacionário e o cenário financeiro local não era nada favorável aos investimentos de renda variável ou seja ações e fundos de ações.

A absoluta maioria dos investidores em nosso próprio país só queria saber de over night e preferia títulos de renda pós fixados, temendo a catastrófica perda do poder aquisitivo da nossa moeda.

Em relação a minha própria aprendizagem, só conseguia obter informações e material de consulta em inglês, provenientes dos centros financeiros mais adiantados da Europa e Estados Unidos que, naturalmente, eu devorava com a maior sofreguidão.

Desnecessário repetir que naquela época ainda não tínhamos a possibilidade de surfar pela Internet para colher mais e melhores dados, para repassá-los em seguida, devidamente adaptados aos clientes.

Um folheto me impressionou particularmente. Confeccionado por um dos maiores bancos ingleses, era dirigido aos seus “expatriates”, (executivos ingleses trabalhando fora da Grã Bretanha) atuantes nas grandes multinacionais mundo afora. Publicava entre tantas outras informações, duas tabelas.

Uma delas relatando qual o tipo de investimento que ano após ano, durante os 15 últimos anos seqüencialmente anteriores havia sido o melhor de todos, portanto informava por exemplo que no ano de 1960 havia sido o ouro, em 1961 o mercado acionário do Japão, em 1962 obrigações da Europa ocidental, em 1963 investir no cobre, em 1964 mercado acionário norte americano etc.

A segunda tabela informava igualmente qual havia sido o pior investimento em cada um daqueles anos para o mesmo período da tabela anterior. A pesquisa portanto citava os 15 melhores e 15 piores investimentos anotados durante os 15 anos anteriores ao folheto publicado pelo banco.

Recapitulando; as performances eram sempre do passado e divulgadas oficialmente no inicio do ano seguinte ou seja, vistos pelo espelho retrovisor, quando já podiam ser consideradas do passado e portanto com seus índices plenamente conhecidos.

As informações das referidas tabelas me impressionaram muito, pois para a totalidade dos 15 anos, os melhores investimentos eram, de ano para ano, invariavelmente diferentes entre si e igualmente diferentes dos anos anteriores, chegando-se a óbvia conclusão de que era impossível saber de antemão qual seria o melhor investimento do ano que se iniciaria.

Estudos a respeito de diferentes tipos de investimentos, relatando sempre resultados para o ano todo, já estavam sendo feitos na época, mas o que diferenciava aquele levantamento especial do banco britânico era que pela primeira vez demonstrava também o sempre confuso comportamento dos investidores.

Tentava demonstrar que a absoluta maioria desses investidores que não eram assessorados por profissionais qualificados (significando obviamente analistas e gerentes de relacionamento do próprio banco), tinham a tendência na maioria dos casos de colocar seus recursos no melhor investimento do ano anterior!

Em decorrência daquelas pesquisas amplamente divulgadas pela mídia, no ano seguinte, investidores que haviam tomado conhecimento desses resultados, (imaginando-se provavelmente muito espertos), calalizavam seus recursos para aqueles investimentos vitoriosos do ano anterior...

A realidade da vida (ou melhor dito, a total imprevisibilidade de acontecimentos futuros) entretanto demonstraria que um dos melhores investimentos do ano anterior quase sempre se transformaria em um dos piores do ano seguinte!

A minha própria experiência prática na época, ao assessorar clientes internacionais confirmaria que um mesmo tipo de investimento, uma ação individual ou fundo de ações, não mais de um, dois e quase nunca três anos consecutivos, era o de maior valorização!

Este planejador financeiro, anteriormente já dava imensa importância aos objetivos, desejos e traços da personalidade de cada um dos seus cliente, passou então a concentrar-se cada vez mais para tentar entender a complexa mente humana, que pode dar peso 100 a um palpite de amigo, uma propaganda bem feita ou mesmo o papo envolvente de um vendedor mais convincente e peso 10 para um estudo racional e fundamentado, baseado em fatos consistentes que consideram passado e futuro, mas que mesmo assim é falível, sujeito a chuvas e trovoadas!

Viva a ciência das finanças comportamentais ou “behavioral finance”, tão bem explicada pela nova geração de psicólogos, economistas e estudiosos a partir das recentes e sensacionais descobertas feitas a partir do “Prospect Theory” de Tversky e Kahneman sobre o comportamento humano.

Em nosso próprio país felizmente já temos alguns profissionais muito bem qualificados, que estudam em profundidade os arraigados traços da personalidade de um indivíduo, que nos levam a cometer erros grosseiros, alguns dos quais se refletem, algumas vezes negativamente pelos anos futuros.

Louis Frankenberg,CFP® 17-10-2010

Blog; www.seufuturofinanceiro.blogspot.com

e-mail; perfinpl@uol.com.br

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