Louis
Frankenberg, CFP® 19.11.2013.
Após tempos não ter falado com
um ex cliente, por casualidade a gente se reencontrou estes dias. Sempre o
respeitara muito como profissional de primeira linha que era, mas eu me havia afastado
dele, pela inutilidade de seguir adiante.
Havia em vão tentado
reeduca-lo para ter um orçamento financeiro mais organizado, ensina-lo a
gradualmente eliminar o seu eterno endividamento, fazê-lo acabar com o
pagamento de juros escorchantes do cartão de crédito e tantas outras questões da
mesma natureza.
Intimamente eu sabia que não
eram somente estas as razões dos problemas dele.
Conhecendo-o bem e durante inúmeros
anos, uma das razões da bagunça financeira dele era a mulher. Ela gostava de
bancar e por essa razão o custo do carrão importado, que hoje em dia tem a
mesma função que as joias tiveram antigamente, quando ainda era seguro
ostentá-los, e este fato o fez passar dos limites do racional e suportável.
Nós planejadores financeiros
inúmeras vezes detectamos a vaidade e a soberba quando estamos na presença da
desorganização financeira de alguém.
Mas é claro havia outros
fatores que prefiro não mencionar, por receio de identifica-lo.
Em vez de estancar a sangria
dos juros, multas, e constantes telefonemas embaraçosos, ao tentar fechar um
buraco, ele sempre abria outro. Exprimindo-o contra a parede, eu sempre ficava
sabendo da novidade a posteriori.
Eu enxergava que ele atuava qual
bombeiro e que a maior parte do tempo útil era utilizado para apagar incêndios.
É claro que tudo isto afetava cada vez mais a sua vida profissional e
provavelmente a sentimental também.
Mesmo assim eu continuava
tentando livrá-lo do vício do endividamento e da consequente insolvência. Até o
dia que me cansei.
Ao revê-lo trocamos
amabilidades e a conversa, por iniciativa dele, descambou para sua vida
financeira da qual, no passado, eu havia participado tão intensamente.
Após aqueles anos de
tentativas vãs de curá-lo, finalmente eu o havia considerado imune a quaisquer mudanças
voluntárias e daí o afastamento.
Qual não foi minha surpresa
quando me contou que finalmente havia decidido a mudar de atitude e enfrentar de
frente a situação. Custei a acreditar e espero que seja verdade.
Contou-me como e porque finalmente
começou a mudar seus próprios maus hábitos.
Ao mesmo tempo em que
estávamos conversando, vasculhei minha consciência e me questionei; não teria
sido eu o culpado por não ter lhe ensinado corretamente a viver dentro de seus
limites?
O ex cliente agora estava com
52 anos e eu lhe disse então que como profissional liberal que era,
provavelmente ainda teria ao redor 15 anos para acumular um decente pé de meia e
de que agora em diante teria de fazer um esforço descomunal para recuperar o
tempo perdido.
De fato, na atual idade em que
ele se encontra, não será fácil fazer uma reserva que de fato valha a pena. Ao
contrário, exigirá descomunal esforço e no Brasil de nossos dias, este é um
empreendimento quase impossível de alcançar a menos que você trabalha com drogas, contrabando ou deslavado roubo (o que muitos de fato praticam...)
Conhecendo-me, sei que sou um feroz
crítico daquilo que atualmente está acontecendo e certamente não fazendo parte
dessa classe média silenciosa que baixa a cabeça e aceita tudo, mesmo assim igualmente
admito que parte da culpa não é dos nossos governantes, mas de nos mesmos que não
gritamos suficientemente altos que estamos cansados do status quo e de que
queremos mudanças já, que basta de corrupção e bandidos de terno fora dos
presídios.
Quando me encontro como no
momento, neste estado próximo ao explosivo, nojo e com vontade de querer
esgoelar o Estado Brasileiro, tento me frear e igualmente olhar para aqueles
países onde atualmente ocorrem lutas fratricidas e agradeço por me encontrar
aqui, onde nem tudo é perfeito, mesmo assim, vivemos bem melhor que num Oriente
Médio conturbado ou mesmo numa África com guerras tribais e fome rondando por
toda parte.
Pensamentos paralelos
desviaram-me daquilo que originalmente era a minha intenção abordar e por isso
peço desculpas aos meus fieis e silenciosos leitores que jamais me mandam suas próprias
opiniões.
Às vezes não me contenho de
indignação e vontade de dizer as coisas de forma clara e bem audível como
agora!
Portanto daqui até o final
prometo me comportar (um pouco) melhor.
Quais serão alguns dos fatores
(não todos) que impedem as pessoas de terem um pé de meia de boa dimensão?
1- O tamanho
descomunal dos impostos diretos e indiretos que pagamos em nosso país,
absolutamente desproporcionais aos serviços públicos que recebemos em troca.
Quando comparo alguns dos benefícios que contribuintes em outros países
recebem em relação ao nosso, me envergonho de ver as diferenças existentes.
2- Em nenhum país
moderno o custo do dinheiro é tão elevado quanto em nosso. Aqui é absolutamente
proibitivo endividar-se, seja qual for o instrumento financeiro utilizado. Comparando-se
juros recebidos com juros pagos e acrescentando-se à última “Correção Monetária +Tributos
+ Custos Financeiros”, a desproporção passa a ser ainda maior.
3- Somos um país em
que educação financeira não é ensinada às crianças, nem pelos pais, nem pela
escola e muito menos pelo Governo que esbanja e desperdiça.
O consumismo em excesso é incentivado pelo marketing e propaganda
agressiva das empresas privadas e pelas próprias autoridades governamentais de
forma errada, este último tentando promover o equilíbrio fiscal e baixando provisoriamente
o IPI para a aquisição de veículos pela população, sabendo-se que as estradas e
ruas das cidades tem conservação absolutamente deficiente e dessa maneira aumentam mais ainda
a inadimplência.
4- Pagamos a vida toda
para nosso Instituto Nacional de Seguridade Social para termos uma
aposentadoria decente, mas quando chega a ocasião de desfrutá-la, verificamos
que nem de longe ela nos oferece o suficiente para termos uma vida tranquila.
Aqueles que não se
previnem 30 e até 40 anos anteriores, separando parte do que ganham para algum
plano de previdência complementar, muito provavelmente terão de trabalhar até
caírem mortos. O pequeno incentivo fiscal que recebem para persistir nesses
planos (12% e com limites rígidos) é bem menor que a metade do imposto de renda
embutido em nossos salários e ganhos do trabalho do autônomo (27,5%).
5- A educação que
Constitucionalmente deveria ser gratuita retira uma parcela bastante elevada
dos ganhos das pessoas físicas que (apesar de tudo) dão imensa importância ao
conhecimento e cultura dos seus filhos. Novamente uma parcela ínfima poderá ser
deduzida do imposto de renda em razão de qualificar estes filhos para enfrentar
a dura concorrência que sofrerão em relação aos filhos dos vizinhos.
Parabéns àqueles que conseguem
superar todos os obstáculos citados e ainda amealhar o suficiente para os dias
de chuva e imprevistos pelas quais sempre passaremos. São os verdadeiros heróis
da Nação.
Os mais bem informados sabem
dos desperdícios que ocorrem em nosso país, inclusive devido ao dolo,
despreparo, indiferença e falta de conveniente fiscalização.
Enquanto não mudarmos este
estado de coisas, um pequeno grupo de abnegados industriais, pequenos e grandes
comerciantes, profissionais liberais e assalariados sustentarão inteiramente
esta máquina ineficiente e pagarão com o suor do seu trabalho por todos aqueles
que hoje vivem às nossas custas.
Milhões de tetas serão
necessárias para aguentar tanta mamação
às custas do país e somos nós contribuintes que vamos pagar algum dia por este descalabro, e este dia se aproxima celeremente, quando a vaca leiteira não mais quiser nos fornecer o leite!
Louis
Frankenberg,CFP®