Louis Frankenberg, CFP® 26-06-2012
Porém videntes, astrólogos, cartomantes, futurólogos,
profetas, consultores, conselheiros, assessores, planejadores financeiros,
gerentes de relacionamento de instituições financeiras e meros adivinhos fazem
a festa tentando enganar os bobos, crédulos e incautos, apontando e convencendo-os
com enorme habilidade de qual o investimento ou negócio que será o próximo vitorioso (ou alternativamente o
mais lucrativo) em algum momento futuro ou data prefixada.
Em 21 de Fevereiro de 2.001
foi publicada minha última coluna em Exame,
da Editora Abril. Haviam sido 6 ininterruptos
anos de publicações naquela prestigiosa revista que me deram muita alegria e prestígio,
além de me terem dado maior desenvoltura em escrevinhar, mas igualmente em
prometer para mim mesmo de nunca tentar camuflar a verdade e sempre oferecer minhas genuínas impressões a respeito
de qualquer assunto econômico ou
financeiro que tivesse de descrever ou oferecer em aconselhamento.
Naquela época como
novamente agora, contrário a tantas consultores, afirmo que não é possível
adivinhar nem o dia de amanhã.
Na matéria em Exame, havia
diversas referências de que o investidor
não deveria adotar decisões precipitadas, apenas baseado nas grandes
oscilações das bolsas de valores que estavam ocorrendo por toda parte, Brasil e
exterior.
Nada mudou desde
então, Bolsas oscilam, guerras continuam acontecendo, bandidos oficiais e bandidos
comuns continuam agindo ininterruptamente e impunemente e a corrupção em nosso
país não diminuiu!
A seguir para vocês, uma
dosagem micro da minha própria biografia
para situarem-se e compreender melhor de que vou falar hoje,
tentando provar meu ponto de vista.
Desde que enveredei
neste complexo e imprevisível mundo que era o financeiro no ano de 1964,
promovendo fundos de investimento internacionais no Brasil, numa época
politicamente bastante turbulento e, na qual nossa moeda frente ao dólar refletia perfeitamente essa calamitosa situação, eu
já era um furioso fuçador de pesquisas,
muitíssimo interessado em entender também o
comportamento financeiro das pessoas, denominado
hoje em dia em inglês de “Behaviour Finance”.
Não existia Internet
nem nada parecido e minhas informações, pesquisas e estudos provinham
principalmente de jornais e revistas internacionais que eu lia sofregamente,
além daquelas que a empresa para a qual trabalhava me fornecia.
Naquele tempo eu andava
com uma pasta executiva da prestigiosa marca Samsonite (para impressionar
favoravelmente meus clientes da minha sabedoria incipiente...) recheada de
pesquisas, estudos e outras provas que pudessem convencer as pessoas a adquirir
determinado fundo de investimento ou então investimento conjugado a seguro de
vida, que eu na época representava.
Lembro muito bem que uma
daquelas pesquisas, patrocinada por um conhecido banco inglês, continha uma relação,
dos melhores tipos de investimento individualizado
ano a ano, representativo dos 20 anos imediatamente anteriores e que mencionava
que em cada um daqueles 20 anos, alguma
forma diferente de investimento tinha sido o mais lucrativo (rendimento e/ou valorização).
A série toda era
constituída por todos os tipos de
investimentos como por exemplo;
Fundos de Ações dos
Estados Unidos, Ouro, Ações no Japão, Prata do México, Diamantes da África do
Sul, Fundo de Renda Fixa na Alemanha, Investimento Imobiliário no Canadá, Mercado
acionário norte americano (Dow Jones) e assim por diante. (Cada ano algum
investimento diferente havia sido eleito como sendo o melhor).
Invariavelmente meus
clientes, vendo a lista dos melhores
indicavam o investimento que havia sido
o melhor no ano imediatamente anterior quando eu os colocava ante a pergunta em
qual daqueles melhores investimentos achavam que
deveriam colocar seu dinheiro e, sem lhes dizer antecipadamente que ainda
havia uma segunda relação na minha pasta
com os piores investimentos.
Em seguida eu retirava
do Samsonite a segunda relação que
demostrava exatamente o oposto ou seja, daqueles mesmos 20 anos quais tinham sido os piores investimentos.
Esta segunda relação não
deixava qualquer dúvida pois provava que os melhores de determinado ano, na maioria das vezes estavam entre os piores de um ou dois anos depois!
E dessa maneira, naquela
longínqua época do meu início de carreira, o principiante e aprendiz de feiticeiro
Frankenberg vendia seu peixe, que obviamente obedecia as mesmas regras que hoje
em dia a maioria dos intermediários continuam utilizando... (volte a ler o
título desta crônica!)
Lição a ser tirada; o
passado quase nunca imita o presente ou o misterioso futuro.
Mas aos poucos,
bronqueado com a minha própria consciência, sabendo agora como a maioria das pessoas eram facilmente confundidas
e influenciadas, resolvi assumir o auto compromisso de que nunca mais iria me valer do subterfúgio
de realçar excessivamente rendimentos ou lucratividade futura nos investimentos que eu
aconselhava ou era o próprio intermediário!
Eu não desejava mais ser
igual aos meus colegas que usavam em grande estilo essa técnica que alguém os
havia ensinado.
Aos poucos fui me
distanciando da “empurrologia” para me voltar cada vez em maior profundidade na análise
comportamental e objetivos de longo prazo do cliente e do seu companheiro/a. Tentava
de todas as maneiras possíveis compreender suas prioridades e anseios.
Pesquisar a mente,
estudos acadêmicos e pesquisas sérias passaram a tomar mais do meu tempo que o próprio ato de tentar convencer potenciais clientes de aplicações
interessantes, é claro diminuindo drasticamente minhas fontes de subsistência.
Não tenham pena de
mim, pois ganhei em troca a absoluta confiança
dos meus clientes e consequentemente mais dinheiro que a maioria dos meus ex
colegas.
Constato com tristeza
que hoje a maioria das instituições financeiras, corretoras, distribuidoras e entidades
de previdência complementar, através de seus representantes, gerentes de
relacionamento, consultores e planejadores financeiros, fazem uso de estudos,
gráficos com dados vistosos e belíssimas
simulações de resultados favoráveis, representando períodos de tempo ainda por
acontecer, incentivando (ou melhor dizendo induzindo) dessa maneira sua
clientela a adquirir produtos
financeiros baseados em um passado que
provavelmente não mais se repetirá.
É o tal de observar o
espelho retrovisor e preencher a série futura de resultados a semelhança do
passado. Erro fundamental, pois o passado geralmente não volta e novos
acontecimentos influirão diferentemente o futuro.
Coincidentemente,
quando eu estava planejando esta matéria, li um comentário bastante contundente
de um colunista da revista “The
Economist” no qual este a certa altura
comenta que investidores sempre estiveram ( e eu acrescento, continuam sendo) ansiosos por
receberem aconselhamento que estivesse em consonância com seus próprios desejos
em relação a compra de ações ou outros produtos financeiros que desejavam
adquirir.
Pessoalmente
acrescento que para um consultor autônomo ou gerente de relacionamento com
bastante experiência e quem sabe um pouco mais
ganancioso que a média, não é difícil conduzir habilmente seu
cliente a fim de que este opte pelo
produto sugerido por ele.
Um investidor leigo é
bastante receptivo a receber informações privilegiadas que lhe possa ser
oferecida no ouvido! (“inside information”)
O autor daquela
matéria ainda acrescentava que Warren Buffet, um dos gestores que mais
recomenda investimentos para o longo prazo e dos mais bem sucedidos gestores do
mundo, pensa que é muito difícil prognosticar visando o curto prazo, mesmo
assim muitos intermediários continuam adotando
esta estratégia.
Eu acrescentaria de
que é impossível prognosticar tanto o curto como o longo prazo.
Buffet diz sarcasticamente que muitos destes
intermediários se remuneram muito bem adotando esta tática, pois estão constantemente
alterando a carteira de sua clientela.
Novamente digo eu que
muita troca de posições são uma excelente maneira para uma instituição
financeira obter ganhos maiores regularmente (e seu representante talvez obter um bônus ou pelo menos alguns
elogios a mais de seu chefe!).
Nestes tempos bicudos
em que o rendimento de muitos investimentos está sendo cada vez menor, acredito
que seria melhor para todos cuidarem das migalhas que são perdidas dessa maneira,
dando mais atenção aos custos administrativos e operacionais desperdiçados nestas constantes alterações da carteira
patrimonial dos investidores...
Inclua nestes seus
cuidados que precisam ser avaliados também os efeitos dos tributos que poderão
ter tanto valor quanto o próprio rendimento recebido.
Voltando ao começo
desta crônica, relembro aos meus fieis
leitores que mais importante que
rendimentos imediatos, são os não menos
importantes decisões tomadas que objetivam metas de médio e longo prazo e que sejam
coincidentes com as prioridades de vida de alguém.
Acredito que os
tempos atuais no qual grandes mudanças estão acontecendo no mundo, e sem dúvida
igualmente ocorrendo em nosso país, devem ser considerações de ordem financeira,
para você não se tornar vítima de surpresas
desagradáveis, endividamento excessivo ou compromissos demasiadamente elevados
que tenham sido assumidos e que, decorrente de eventuais crises ainda por vir,
não poderão ser honrados.
Lembro ainda que o
terrível mal chamado “estresse” e suas consequências para nossa saúde são sempre originadas devido
crises de todos os tipos que
passam a afetar a gente
pessoalmente.
A minha interpretação
da ansiedade ( e principalmente ganância!) existente por parte de determinados
empreendimentos comerciais e financeiros
que estão se lançando no mercado (ou que já ocorreram nos últimos três
anos através de IPO’s e outra formas de abertura e ampliação de empresas) é de
que estamos vivendo um autêntico “Far West”,
onde aquele que grita mais alto
ou consegue atrair maior público investidor através de propaganda enganosa ou marketing
super agressivo, é o queridinho momentâneo do mercado, não sendo dado a mínima
atenção ao conteúdo ético e qualitativo das ofertas ou da veracidade das informações fornecidas para
este público.
Infelizmente, é este
o clima atualmente dominante em nosso país, igualmente proveniente do setor
governamental como da própria iniciativa privada, comprovado inúmeras vezes por
este humilde planejador financeiro, que tem visto neste últimos
anos o debacle posterior ocorrendo
em tantas empresas, após estarem algum período cotadas na nossa Bolsa de Valores, e quando finalmente é (
descoberta) comprovada a farsa dos balanços adulterados e dados
essenciais disfarçados anteriormente divulgados e consequentemente, suas
cotações dispararem ladeira abaixo.
Pobres incautos e
ingênuos, penso eu, que não foram prevenidos anteriormente.
Não desejo citar
nomes bastante recentes, mas já contabilizei várias delas que, anteriormente eu
já havia colocado na minha negra pessoal!
Não sou um
profissional capacitado para analisar com perfeição alguma empresa específica quando
é jogada no mercado, mas sou suficientemente entendido e experiente da vida para saber de antemão que ela não é nada daquilo
que desejam que o público passa a pensar a respeito dela. Faro? Não apenas bom
senso.
Culpa da empresa?
Não, culpa de seus dirigentes
e todos aqueles mencionados no
título da crônica que, passo a passo, prepararam a arapuca para os bobos,
crédulos e incautos como já mencionei mais acima.
Aqui do meu insignificante
cantinho penso porém calo a boca, apenas mencionando minhas reticências a
respeito de algumas dessas empresas aos que me pedem a opinião antecipadamente.
É claro que vale
igualmente para mim o título que escolhi
para o título desta crônica e tenho constantemente em mente de que;
“Continua
sendo impossível adivinhar o dia de
amanhã!”
É óbvio de
que fico feliz em não ter participado do oba oba e da farsa de tantos protagonistas de histórias de
empresas inverídicas ou inchadas
artificialmente, porém fico triste por saber que pouca gente foi alertada em tempo por seus respectivos conselheiros e assessores.
Tenho minhas dúvidas sobre quantos deles são verdadeiros profissionais probos e confiáveis.
Continuo também
acreditando de que existem muito mais incógnitas, pesquisas plantadas e
informações inverídicas neste nosso
Brasil do que imaginamos.
Abraço amigo,
não me levem a mal e até a próxima vez!
Louis
Frankenberg,CFP® 26-06-2012
Blog;
seufuturofinanceiro.blogspot.com