(Confidenciando em voz alta)
Louis Frankenberg,CFP® 01-03-2012
Estou há um mês de volta de uma longa viagem que fiz à Europa e, sentado atrás do teclado do meu PC, neste nosso pacato Brasil que, costumeiramente pensa que está acima das atuais desventuras e crises de outros países.
Será pacato mesmo com tantas de nossas mazelas varridas para debaixo do tapete?
Escrevi anteriormente, para quem se deu ao trabalho de ler meus blogs que, geralmente trago de volta um montão de recortes financeiros da minha estadia no civilizado mundo chamado Europa. Novamente pergunto, será mesmo tão civilizado assim? Tenho também minhas dúvidas!
Desde que voltei, todos esses recortes estão me encarando feio bem em frente do meu nariz e eu, por alguma intuitiva aversão à consultá-los, estava fugindo de comentá-los.
Continuando a ler esta coluna vocês vão saber porque. Não lhes peço concordância e nem prometo plena satisfação com meus pontos de vista, mas eles são honestas e representam o que penso.
Eu acho que descobri a razão das minhas reticências. Tenho a mania de sempre querer comparar acontecimentos financeiros da Europa, Ásia e dos Estados Unidos com os nossos daqui e aí eu me perco nas também sempre diferenças de costumes e comportamento humano.
Desta vez vou fazer um imenso esforço e me ater somente ao exterior, por mais vontade que me dá de mesclar tudo e proclamar erradamente:
Desta vez vou fazer um imenso esforço e me ater somente ao exterior, por mais vontade que me dá de mesclar tudo e proclamar erradamente:
“vejam como a cabeça das pessoas ( povo e dirigentes) das diferentes classes sociais daqui são iguais as de lá”.
Alguns de vocês já me conhecem melhor e portanto sabem que minha principal preocupação financeira é sempre com as finanças das pessoas físicas, desde aquelas das classes mais simples até as mais sofisticadas, enfim com todas as classes sociais, e bem menos com a denominada ‘macro economia”, que coloca pesquisas, estudos e estatísticas em um enorme saco comum, imaginando que teremos todos, meus caros leitores, perfeitas respostas para solucionar nossas dúvidas e indagações.
A maioria dos economistas, (mas não querendo ofendê-los, pois estão tão confusos quanto os mortais comuns) imaginam que divulgando os dados coletados, incluem a absoluta totalidade do universo das pessoas. ( e sem dúvida isto não deixa de ser verdadeiro).
Mas quantas vezes vocês, lendo algum dado estatístico ou pesquisado, divulgado por alguma destas conhecidas empresas públicas ou privadas especializadas, fundações, institutos ou associações, com centenas de estatísticos e recenseadores, não devem estar dizendo para si mesmos;
“eu não me vejo enquadrado com aqueles dados,
eles podem se referir a outra pessoa, mas não a mim”.
Chega de filosofia contestatória. Vou tentar manter minha promessa dada a vocês.
A impressão que me causam as inúmeras notícias e estudos que vejo é de que de fato estamos penetrando em um mundo completamente diferente de duas ou três décadas atrás. Um mundo onde já não importam ética, autenticidade, moral, transparência, honestidade e outras palavras de significado semelhante.
Esta constatação me dá calafrios, pois sei como é extremamente difícil para o ser humano, por um lado de se desprender de hábitos arraigados e por outro lado adotar novas maneiras de se comportar em sociedade. Conselhos perenes e sólidos recebidos de familiares muito próximos e queridos como pais, avôs etc pouca valem neste mundo novo de virtualidade, ilusões e aparências ....
Decido que vou deixar de lado meus recortes acumulados de 2 e 3 meses atrás e coloco na minha frente unicamente a penúltima edição do “The Economist” de 18/2/2012 e faço meus comentários e interpretações derivadas daquela que considero a melhor revista que conheço, a respeito do que está ocorrendo neste nosso mundo maluco, conturbado e complexo.
Por exemplo vejo na edição daquela edição que as heróicas empresas japonesas de duas décadas atrás, NEC, Sharp, Panasonic, Sony e Fujitsu perderam todas, separadamente e em conjunto 2/3 do seu valor nas bolsas de valores.
Gente, isto é muito e é uma calamidade! Imagina que você havia investido 100 mil dólares neles e agora somente tem 30 mil dólares. Essas empresas eram da elite industrial e econômica do Japão! Você trabalhou em alguma delas? Com toda a probabilidade então já não trabalha mais!
No mesmo “The Economist” um quadro específico mostra a queda do G.D.P.(Gross Domestic Product) de alguns países, no último trimestre de 2011; Áustria, Alemanha, Espanha, Itália, Holanda, Portugal e Grécia em ordem crescente de perdas substanciais, França é a exceção.
Concluo que nestes países muita gente perdeu ou estão em véspera de perder seus empregos e terão de viver por algum tempo de suas economias, se os tiverem feito anteriormente e, também terão de enfrentar as extensas filas do seguro desemprego desses países chamados paraísos socializados.
Choro com eles, pois sei como é melancólico e triste passar por tempos difíceis de aperto de cinto, noites mal dormidas, a visão nebulosa do futuro imediato e não sabendo quando dias melhores virão.
Como há inúmeros anos acompanho de perto os acontecimentos na Europa, vejo como os imóveis, antes valorizando invariavelmente, de ano para ano, agora estão a espera de alguém que os adquire.
Eu sempre era aconselhado a adquirir algum deles antes que o preço subisse ainda mais.
Desconfiava, entretanto, de que a constante subida do valor não podia perdurar por muito tempo e como não possuía cacife para enfrentar qualquer aquisição dessas, por sorte não entrei em nenhuma fria.
Tomem como exemplo a Espanha, ótimo lugar para se aposentar para muitos dos habitantes europeus dos países mais nórdicos. Começaram a construir adoidados e sem planejamento imaginando que a euforia iria perdurar para sempre. Deu no que deu.
Hoje, o desemprego lá é de 23% e como já escrevi em alguma coluna anterior, vi bairros inteiros de prédios novos e desertos em Madrid. E se lá eu tivesse adquirido imóvel, conseguiria hoje passá-lo adiante ou obter algum aluguel decente? Creio que não. (Esta última sentença serve também de advertência para quem adquiriu na euforia do dólar e imóvel barato, aleatoriamente “real estate” na Flórida)
História parecida aconteceu também duas décadas atrás com os argentinos no Brasil. Era uma época de dólar artificialmente barata para eles. Adquiriram como adoidados imóveis em nossas praias do sul e do nordeste. Chegou o momento da verdade e se tornaram pobres. Tiveram de abandonar os financiamentos ou vender de qualquer maneira os imóveis comprados.
Enquanto estou escrevendo, me assalta o pensamento de que essas coisas também podem ocorrer por aqui em alguma data futura, mas prometi não misturar os acontecimentos da Europa e dos Estados Unidos com a nossa realidade. Estava esquecendo! Fica para outra vez dizer porque penso que isso pode acontecer.
Confirmando que o mundo mudou mesmo e ainda continua mudando, vejo na pagina 68 da mesma revista “The Economist’ que os maiores lucros obtidos para um investimento de US$ 100,00 feito em alguma das seguintes empresas há 10 anos é a seguinte; Apple, valor atual; US$3.919 – Sherbank; US$3.722 – Conoco Phillips U$1.380 – Amazon; US$ 1.350 e..... Vale; US$1.250 .
Eu não tive a oportunidade (ou coragem) de investir nelas mas alguns de vocês quem sabe apostaram no Vale. Parabéns!
Agora compara algumas destas mais visíveis e atuais empresas de fama mundial com algumas das também empresas tradicionais ainda existentes e você se perguntará como é possível haver tão radicais mudanças em tão pouco tempo. As empresas de “TI”, Tecnologia da Informação e Internet estão na ordem do dia. Empresas de idéias inovadoras e serviços prestados que ninguém sabia há pouco tempo que pudessem ser inventadas, muito menos festejadas e aplaudidas. Algumas delas estão inchadas qual balões. Você sabe qual delas sobreviverá o dia de amanhã?
Jamais, apenas pela lógica ou inteligência acertará na mosca em quem será o futuro Midas, adquirindo suas ações ainda no nascedouro.
Será que essas empresas que agora estão na boca de todos confirmarão seu valor de mercado como pretendem? Apenas o futuro responderá se seus dirigentes são apenas vendedores de ilusões ou terão grande importância para o futuro e responsáveis por felicidade eterna da humanidade.
E ainda indago o seguinte; por quanto tempo estarão na vanguarda e por quais outras empresas serão engolidas logo em seguida?
Minha gente, fico tonto, as coisas vão depressa demais. Parem que eu quero descer!
Recordo tão bem o poder industrial e econômico da General Motors dos anos 50, 60 e 70 e a sua quase falência pouco meses atrás... Quem diria, a maior S.A. de Capital Aberto do mundo!
No Jornal Financial Times de 4/1/2012 vejo o percentual de desemprego em Outubro 2011 de alguns países; em ordem crescente; Alemanha 5,2 %, Bélgica 6,0%, Portugal 12,5%, Eslováquia 13,5%, Irlanda 14% , Grécia 18% e Espanha 23 %.
Qual será o pano de fundo e a remota causa destas apenas três amostras de notícias de que algo não está nada normal (e estável) na Europa, Ásia e Estados Unidos? Como tudo isso terá continuidade ?
E não podemos esquecer os bancos. Seus dirigentes vão me jurar de morte com o que vou dizer.
A meu ver estes onipresentes gigantes ( e que agora estão quase todos com pés de barro) que não tem mais nada a ver com as inocentes instituições de mera intermediação financeira de antanho!
Não é por nada que Citi, Bank of America, UBS, Morgan Stanley, HSBC, Merril Lynch, Royal Bank of Scotland, Santander, AIG, Allied Irish Banks e outros perderam muito dinheiro, catástrofe ainda maior, parte essencial de seu próprio capital, e conseqüentemente enorme valor de mercado.
Neste momento estão correndo para que você “please” adquire novamente parte de seu capital original! Vais entrar nesta para lhe enrolarem novamente? Pobres dos acionistas e investidores que confiaram novamente neles.
Pessoalmente me dá arrepios (e por que não dizer nojo) quando continuo ouvindo que a razão de ser dos Bancos Comerciais, de Investimento, Administradoras de Fundos de Investimento, Fundos de Pensão, Corretoras etc. têm como principal obrigação dar o máximo de lucro aos seus acionistas.
Para mim, nas entrelinhas e jamais dito com todas as letras, a interpretação que deve ser dada a este bordão é;
“oferecer o maior salário e bônus possível aos seus dirigentes a custa de produtos dito confiáveis” (propositadamente deixo de lado as múltiplas interpretações que possam ser dadas para estas autênticas batatas quentes e podres que são muitos dos produtos atualmente oferecidos) para serem empurrados aos incautos e pouco conheceres investidores finais de fundos em geral e reservas técnicas de entidades de previdência governamentais e privados também. O raciocínio daqueles dirigentes provavelmente era;
“quem não sabe do conteúdo, tão pouco vai poder reclamar”.
A ordem geral anterior à crise de 2008, continuando sendo igual neste ano de 2012, é representada pelas palavras; “ máximo lucro, especulação e ganância”.
Os organismos fiscalizadores institucionais e bancos centrais, que deveriam zelar pela qualidade do conteúdo dos investimentos no mundo inteiro, fecharam os olhos e deu no que deu...
Até hoje estou aguardando que alguns dirigentes mais diretamente culpados sejam colocadas atrás das grades, pagando por sua ousadia e visão míope e destorcida, porém nada disso acontece.
Leio nesta semana pela internet em jornal holandês que os milhões de beneficiários de fundos de pensão holandeses provavelmente terão de se satisfazer com menores rendimentos distribuídos em 2012...
Para encerrar este blog enorme, que escapou dos meu próprios cortes, penso sempre naquilo que aprendi nas aulas de química, ainda nos bancos escolares. O grande sábio francês Lavoisier afirmava que;
“na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Para os muitos (clientes) que perderam e continuarão perdendo nos mercados financeiros pessimamente administrados e fiscalizados, existirá sempre um outro grupo bem menor que alegremente embolsará uma bolada igual ao perdido por aqueles milhões, sem remorso e sem castigo!
E assim continuará sendo na China, Europa, Estados Unidos... e no Brasil. Amém!
Fique esperto, caro amigo leitor, sei das coisas e quase que apostaria de que nada será alterada aqui ou acolá. Crises financeiras virão e serão esquecidas e outras crises virão mais adiante.
O melhor que você pode fazer é não acreditar cegamente em tudo que desejam lhe impingir e comece a crer de que negócios fantásticos e milagrosos não existem e de que sempre é bom se aconselhar com profissionais planejadores financeiros independentes, éticos e desinteressados! Não necessariamente eu, que já estou quase retirando o time da quadra!
Louis Frankenberg, CFP® 01-03-2012
e-mail; perfinpl@uol.com.br e lframont@gmail.com
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